_Pense
na minha proposta - disse ela batendo com o cartão na mesa sem desviar dos
olhos dele - poderá contactar-me nesse endereço, telefone primeiro.
Enquanto
ela se afastou, ele não se moveu, Parecia pregado ao chão, concentrado no
pequeno papel deixado sobre a mesa. Por um milésimo de segundo, tudo
desaparecera. A venda da propriedade, as dívidas, as obrigações familiares,
todas as preocupações.
A
pancada seca na madeira despertara-o do transe. Nesse feliz vazio, onde se
encontrara, apenas tomara consciência da presença dela, não ouvira qualquer
proposta.
Sacudiu
a cabeça, deslizou os dedos pelos cabelos, soltou uma gargalhada tensa como se
o libertasse de algo. Ainda assim sentia-se amarrado e os seus dedos seguiam
hipnotizados os aromas que emanavam da mesa e num impulso levou o pequeno papel
ao nariz... Rosa, jasmim, violeta, flor de laranjeira, gardénia, madeira
de cedro, sândalo e âmbar...
No
bolso da camisa, junto ao peito, ardia e seduzia-o a ideia de voltar a vê-la.
Recordou os olhos expressivos, a tensão palpável, o movimento dos lábios. A
verdade batia-lhe no corpo como ondas de calor. Não havia proposta alguma,
apenas um «estou aqui, segue-me, vem».