quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Fragilidades

 

Ela revestiu os lábios de esperança cega e tateando nas entrelinhas, leu gestos desconexos nas pétalas de uma flor moribunda e num punhado de letras comercializadas.

O papel pardo abriu-se ao toque como um presente desconstruído. 

O olhar perdeu-se no preço na orelha da capa, mas não se demorou no título.

Ela sabe que as palavras foram colhidas por outro alguém e que os poemas não lidos são fracos embaixadores de expressões de amor.

Não há nada na contracapa que contradiga a falta de essência. 

Ela não contraria o que lhe vai na alma.

Hoje, sente o aperto no peito, uma sensação de esperança efêmera na conexão fugaz entre gestos e palavras não plenamente compreendidos.

A expetativa é frágil como a espuma do mar, mas não lamenta desejar, tão intensamente, por um mergulho em águas mais profundas.


Imagem: KELLEPICS