Sigo os meus passos como
se fossem de um caminhar diferente, vejo como se encaminham para as ruas
desertas no silêncio da noite.
As sombras tão ruidosas e
intensas realçam o contraste axadrezado dos passeios. Luz e escuridão em tons
graduais de branco e negro, para trás fica tudo o que é colorido.
A cidade não dorme.
Aqui e ali espectros
viajantes deixam um rastro perfumado no ar. As fragrâncias gotejam dos telhados
contando os minutos que enchem pequenos espelhos de água.
Pensei que teria medo ao
passar junto aos becos mal iluminados, mas na verdade, apenas sustenho a
respiração quando os meus passos se deixam ficar contemplando o breu
desconhecido. Concentro-me nos sons que chegam: uma tampa que salta, a fúria de
um gato, uma garrafa que parte, uma tosse cavernosa...
Alívio sinto nos passos
apressados que sigo, respiro ao afastar-me dos becos sem saída.
Não me pergunto sobre o
que ali estou a fazer... A mera suposição de acção vence qualquer discussão
interior.
No fundo da rua uma
ponte, do outro lado a escuridão é mais densa. Os passos hesitam sem contudo
suspender o movimento. Agem como se não houvesse volta a dar ou talvez saibam para
onde vamos...
Eu não sei, mas isso
agora não é relevante, sigo os meus passos em seu caminho e por ora é tudo o que
me sinto impelida a fazer.
Caminho, ainda que não
sinta os passos como meus.
Fotografia de: Um outro Olhar (contém hiperligação para a página do autor) |
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