Ela revestiu os lábios de esperança cega e tateando nas entrelinhas, leu gestos desconexos nas pétalas de uma flor moribunda e num punhado de letras comercializadas.
O papel pardo abriu-se ao toque como um presente desconstruído.
O olhar perdeu-se no preço na orelha da capa, mas não se demorou no título.
Ela sabe que as palavras foram colhidas por outro alguém e que os poemas não lidos são fracos embaixadores de expressões de amor.
Não há nada na contracapa que contradiga a falta de essência.
Ela não contraria o que lhe vai na alma.
Hoje, sente o aperto no peito, uma sensação de esperança efêmera na conexão fugaz entre gestos e palavras não plenamente compreendidos.
A expetativa é frágil como a espuma do mar, mas não lamenta desejar, tão intensamente, por um mergulho em águas mais profundas.
Imagem: KELLEPICS |