segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Espero que chova




Entrego-me à chuva sem receio, como se estivesse com muita pressa para ir a um qualquer lugar. Ninguém me julga na minha urgência e há sempre alguém que se esqueceu do guarda-chuva protector.

Nos dias em que, também eu, carrego esse sinal de resignação e me resguardo da chuva, brinco às escondidas sob a lona multi-colorida. Apenas as crianças sabem o que faço e porque o faço, vejo-o nos sorrisos de uma travessura inocente.Sorriem-me porque passeio transportando o arco-íris nas mãos e também eles, se pudessem, largariam as mãos protectoras e brincariam com a chuva.
Sem supervisão, já em criança dançava à chuva e ria chapinhando com as galochas coloridas nos espelhos de água. Parece-me que me vejo de braços no ar, abrindo a boca recebendo algo que considerava divino. A água que vem do céu, esperanças infantis de uma vida abençoada.

Entretanto, cresci e enamorei-me pelo sol sem que deixasse de amar a chuva. Quente e frio, expandir ou aninhar... Quero tudo! Então, estou à espera que chova porque adoro ser sol num dia cinzento, vejo o brilho e sinto-me quente, febril... Desejo que chova para que possa correr lá para fora e longe dos olhares abrigados, rir sem freio.

Correr à chuva como se corresse para o banho quente e cremoso, tão íntimo e delicado como um abraço temperado. Deleita-me e arrepia -me o seu beijo molhado, o abraço gelado das suas gotas, as dezenas de dedos que deslizam sobre a pele. Envolvente e libertador...

Corro para chuva porque não esqueço quem sou e sabendo-o sou livre!

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