A escuridão avança, tal nuvem negra que anuncia a tempestade shakespeariana que reside em mim.
"Ser ou não ser" interrogação pura, genuinamente intemporal. Uma hesitação que me mantém suspensa, ainda que o Tempo não espere e a Vida continue em frente, indiferentes ao meu dilema.
Sinto uma estranha e permanente inquietude, um barómetro que anuncia uma tempestade. Procuro-a no horizonte e iluminada como um farol, encanto-a e espero que se aproxime.
Não temo a intempérie, na verdade, amo a sua alma viajante e os lugares que sabe existir.
Tenho esperança na sua inclemência, nessa força capaz de me arrancar do meu coma vigil.
À primeira golfada de ar, grito! Peço-lhe que me leve a consciência, ainda que me roube o sopro da Vida, ainda que a Palavra fique, neste mundo, infinitamente por proferir.
_Protege-me!- Suplico.- Leva-me para um lugar sem noção de Tempo, em que tudo o que me espera é infinito e concreto. Leva-me para um lugar em que as palavras soltas pelas consciências estão em harmonia com as intenções, porque de contrário não existiriam.
Autor desconhecido (contém hiperligação de origem) |
Sonho com tal lugar, enquanto contemplo a tempestade que passa ao largo e as suas correntes chegam até mim suaves, como brisas que me beijam o rosto, carregando consigo apenas as minhas lágrimas.
Então, escrevo e engarrafo as palavras, na esperança que a corrente as leve para as mãos tempestuosas que não me carregam.
_Leva-as!- Grito-lhe, na esperança que sopre as minhas palavras para aquele tal lugar.
_Leva-as! Para que os teus ventos as depositem na boca certa, que proferindo-as sentirá o mesmo anseio, partilhando comigo esta inquietação que me impele a escrever.
Por ora, estou só, entre mundos cuja fronteira não é visível aos demais.
Protejo a Palavra, esperando que esta corresponda à devoção que lhe dedico.
Ama-me, peço-te! Ama-me, como sempre me amaste!
Suspiro, iluminando a noite com a minha presença.
Pálida e frágil luz num lugar tão inóspito... Mas, eu sou Eva, lendariamente sem opção.
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