sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Palavra anónima


Por vezes, as palavras são como as folhas das árvores no Outono, despem-se e despem-nos. Mas ao contrário das folhas secas, que o vento nos oferece como se fossem tapetes e que as sentimos quebrar sob os nossos pés, as palavras não nos tornam mais visíveis e nem sensibilizam os outros quanto à nossa existência.

Ainda que tenhamos sido apenas uma pequena centelha numa avenida de plátanos, vestida de cobre e sangue, ainda que a nossa voz fosse apenas um nota numa harmoniosa melodia e o cheiro uma essência que embora doce se diluiu com as demais fragrâncias, ainda assim, permanecemos anónimos entre os demais.

O vento impele-nos a conviver, empurra-nos, como folhas, de encontro ao desencontro. 
Um pequeno ribeiro ou uma torrente de palavras são facilmente ignorados no seu no caminho.

Antes fossem como um barco de papel que na sua alegre viagem, a todos capta o olhar, fazendo-nos ansiar por uma travessia segura.
É apenas um barquinho de papel e se faz notar!

As palavras que nos desenham, sem linhas ou sombras, essas continuam ignoradas, a menos que por ilustrações se façam acompanhar.

Apela a imagem e a memória regista o slogan. É a palavra vendedora, vendida ou à venda!Eu não vendo e nem compro palavras. Gosto da palavra semeada que cresce carente de cuidados.

Naturalmente, é tão bela a palavra silvestre como a palavra polida, ambas brilham como pirilampos animando a noite. Mas ninguém pára para olhar para tão singela sinfonia e apenas alguns suspendem a marcha para colher a palavra campainha que salpica colorida os caminhos, nos quais nos cruzamos indiferentes, desconhecidos.
Então escolhi!
Optei pela palavra que suspira, por aquela que dança como as searas ao vento, ainda que não me vejas, ainda que não saibas quem sou ou onde estou!



Talvez um dia, olhes para mim e me vejas como quem lê um livro.
Talvez um dia, eu seja a palavra colhida, cuidada no teu jardim!
Por ora, sou palavra anónima.
Anonimamente livre!
Ainda que ilumine uma avenida, ainda que faça parte de uma sinfonia, ainda que deixe no ar uma fragrância doce que não te fará recordar.

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