Entrego-me por completo ao impulso que nos faz correr rumo ao desconhecido e não tenho medo. Quero sentir o pulsar do meu coração e o suor do teu corpo, enquanto te estimulo a ir o mais longe possível. Estamos unidos por uma mesma vontade, curiosamente sem destino, deliciosamente projectada no caminho incerto que surge à medida que avançamos.
O trajecto que desenhamos com o corpo, não é mais que uma noção vaga dos obstáculos ultrapassados, contornados a uma velocidade estonteante. Não sinto necessidade de ter certezas, não tenho medo de me perder, apenas entrego-me a este desejo que me faz apertar o corpo e impor o ritmo.
O terreno acidentado potencia a aventura, o céu desfaz-se num pranto e modera a temperatura dos corpos que aquecem acusando o esforço. Bebemos das suas lágrimas e recuperamos forças para, de novo, nos entregarmos a uma corrida urgente e sem uma razão aparente.
Aparente… Desejo intensamente chegar a um lugar a que possa chamar abrigo... Nunca pertenci a lugar algum, mas sempre pressenti a existência de um refúgio que potenciará quem sou.
Na tua garupa e a galope tento a sorte, tento a vida, sinto-me viva! Livre de todos os açaimes e correntes com que me prenderam até que me negasse, até que tivesse medo de sentir, medo de ser quem sou e como sou.
Enquanto me lanço vertiginosamente para a frente, querendo mais velocidade - como se pudesse impedir mais um desencontro - confesso-me ao vento, primeiro subtilmente, como um murmúrio, depois a voz solta-se num grito suplicante:
_Por favor, ainda nesta vida, para que siga a pista na próxima...
_Por favor, ainda nesta vida, para que siga a pista na próxima...
Encontro-me no Nada. Não existe qualquer outro ruído para além do meu pensamento. A luz não me fere os olhos, pelo contrário, põe a descoberto o que antes eram apenas contornos.
Suspendo a marcha, mas sinto-me fluir, atraída pela energia que emana de uma nascente, espelho que me reflecte como se fosse uma mulher diferente.
Então, eu sei... É preciso procurar primeiro a felicidade que reside em nós, antes de a encontrarmos no Outro. Sinto na verdade que não existe refúgio mais seguro do que a minha própria fortaleza, primeira linha de defesa e força libertadora.
Não tenho medo de regressar, sinto os passos mais firmes, menos ansiosos. Solto os cabelos e deixo que o Vento nos conduza a casa. Liberto o sorriso que não quero conter e iluminada, aprecio o passeio.
Atrevam-se a viver. Hoje e sempre!
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