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Tenho-te na boca como um verbo morto
Uma palavra crocante de haste seca
Um discurso amorfo, solto da raiz
Um livro de páginas em branco.
Tenho-te no ouvido como uma nota solitária
Um andamento de um falso prelúdio
Um concerto desconcertante
Uma sinfonia funesta
Tenho-te nos olhos como um horizonte prometido
Uma vaga noção de ti
Um plano aparentemente transparente
Um resquício de sol em mim
Tenho-te, meu pensamento como uma sombra oculta
Um ser celular, fonte da minha energia
Um motor de simbologia que me eleva
Uma fibra que me percorre, electricidade que me condena
Tenho-te assim, na mente, nos olhos, no ouvido, na boca
como uma substância que me tem cativa
Dopamina que me assusta
Endorfina do meu desejo
Tenho-te apenas assim!
Assim, para nunca perder.
Antes não te ter…
Não te ter!
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