Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem) |
Tagore, Rabindranath
Recordo os dedos pequeninos colados ao vidro da janela desenhando os contornos de um céu cintilante, como se esticasse as asas e pudesse seguir o feixe de luz de uma lua cheia, numa noite sem nuvens.
A noite é mágica e com ela, eu também o serei - assim pensei outrora!
A noite permaneceu mágica até ao momento em que o sol me ofuscou e o meu corpo revestiu-se de véus, cuja leveza permitia receber tanto calor.
Perdi a Lua! No seu lugar surgiu um lago de gelo, cenário de um bailado solitário.
Perdi as Estrelas! No silêncio da noite deixei de elevar o olhar, serpenteei pelo silêncio das recordações, atiçando as brasas, mantendo a chama brilhante.
Perdi-me em torno dessa fogueira! As asas transformaram-se num sopro e os véus fluíram presos a um corpo ondulante.
Peregrina de mim mesma, templo oculto e sem culto. A realidade é um complexo sistema de casulos.
O Tempo continuou sem incómodo, tem um ciclo a cumprir. A cada ciclo completo um véu se desprende e a ilusão é retalhada pelas traças que eclodem. Sim, nem todos os casulos albergam a larva que dá lugar à borboleta.
Seduzida por um sol peregrinei na noite de olhos postos no rubor das faces, na contracção das coxas, nos lábios mordidos por pedidos suspensos. A noite tornou-se o espaço do suspiro solitário, do caminhar descalço sem rumo e sem sorte.
Quis um dia a Lua resgatar-me, reclamando a minha amante energia. Ao abrigo da noite e à luz da sua magia, os véus desprenderam-se a cada passo dado em redor do meu inferno. Encontrei a face da verdade que os meus sentidos ofuscaram.
O meu sol não é mais que um rochedo negro. Uma falsa tábua de salvação, uma frágil muleta que a ilusão pintou e reforçou no devir do Tempo.
O gesto que me elevou nos ares perde a força a cada verdade revelada. A mesma verdade que no passado me fez recuar perante a fogueira. Não tinha então pecados para queimar!
Cai o último véu. Nenhum no covil de Narciso.
O meu falso sol não é mais que a negação do Amor, um logro de Loki, um sonho de Afrodite.
O rubor invade-me as faces, culpa ardente.
Os meus dedos percorrem o terreno fértil, esperança suplicante.
Dispo um único véu para um banho de lua sob o olhar das estrelas.
Liberto-me!
Lindo como sempre....beijokas
ResponderEliminarass: Asle