terça-feira, 5 de julho de 2011

São ondas!



O vento no meu rosto perturba o equilíbrio das emoções à superfície da pele.
Sinto-as a crescer em movimentos ondulantes que se quebram nas veias. São como ondas do mar que não suportando o seu peso se entregam aos pés da areia. Rendem-se, mas não sem antes se fazerem ouvir num rugido ou numa lamuria rouca. Não são todas iguais, as ondas. Não se quebram da mesma forma...
Existem ondas que se erguem imperiosas e se abatem furiosas sobre a praia.
«Coragem é preciso! - dizem.»
Outras são como pombas brancas que se desfazem por sacrifício, uma espuma cremosa deixam como sinal da sua amorosa passagem.
«Um derradeiro esforço de existência.»
As emoções são difíceis, resistentes, persistentes... Impossíveis de deter ou domar...
Por vezes são apenas força criativa, como uma Luz que se opôs às trevas, o seu contrário natural. Outras, são como um animal amordaçado, acumulam em silêncio até não suportarem o peso, abatendo-se numa corrente furiosa, de águas tumultuosas e pouco transparentes.
«Nenhuma coleira é verdadeiramente terapêutica.»
O vento no meu rosto perturba o equilíbrio das emoções à superfície da pele.
O meu silêncio tumular não encobre as ondas agitadas à superfície da pele. São como pedras num charco, desenhando remoinhos à passagem.
O movimento superficial é aparentemente harmonioso e inofensivo, mas longe dos olhares, distante das atenções, o abismo abre-se em pequenas fendas eruptivas. O submundo é palco do teatro de emoções. A planície invadida por hordas emocionais que se opõem, arrastam catadupas e ampliam o raio de destruição. Depois, impera o silêncio carregado de dor, confusão e medo.
Na boca carrego um trago de sangue, do mesmo que me corre nas veias. Sabe a madeira que apodrece no fundo do mar, encalhada na areia, pronta para contar a história…
«Depois das nuvens negras, surgem raios de sol…»
Suspiro, pelo princípio de todas as coisas, génese do gesto capital. Foi por amor que deixei de me orientar pelas estrelas e pelo amor engoli todo um oceano…
«Conselho!»
Nenhuma emoção é particularmente fácil, isolada em si mesma. A maré é cíclica, mas nunca igual… Nunca trás as mesmas águas.
Reviver é um falso presente, um irreal refúgio. O que não foi acabou no tempo seguinte!
A probabilidade é um enunciado formulado por quem se recusa a admitir que deixou de viver. Desengane-se quem deseja apenas viver um único estado emocional e amar apenas só uma pessoa.
Vive e ama todos em teu caminho!
São ondas! São ondas as mensageiras do meu desassossego…
São ondas que me empurram para longe ti!

Saudade poética






Resposta a um desafio literário lançado por Sílvia Mota, autora e criadora da PEAPAZ, tendo o mesmo sido destacado pelo júri constituído.