domingo, 27 de maio de 2012

Cativa



Tenho a palavra presa, engasgada, perdida entre os nós dos dedos.

Tenho-a contida, fechada, como se fosse perigosa para si mesma.

Tenho-a sufocada, chorada e sorvida no silêncio da noite que não se quer perturbada.

Sinto-a na ponta da língua, no roçar dos lábios, na fricção dos corpos, na convulsão prazerosa, no gemido mudo.

Sinto todas as suas letras, vejo todas as suas formas, torturam-me os seus significados, mas nada posso dizer e nada escreverá enquanto me tiver assim...




sábado, 26 de maio de 2012

Solidão

Um dia o vento soprou com tal intensidade que pensei que me colhia, arrancando-me pela raiz. Resisti, ora abraçando o solo, ora erguendo os braços como bandeiras da minha forte vontade. 

Era um vento passageiro, propício a todos, os que de olhos postos no horizonte, não fixam raízes…  Vi-os partir, na corrente que se desconhece a origem e que ninguém sabe para onde vai. Apenas sabiam que era feita de ar, da mesma matéria dos sonhos, e isso bastou-lhes. 

Eu fiquei... «Resisti!» 
[Loucos aventureiros!] - Pensei, enquanto justificava a minha solidão.


Ema Moura

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Entre a lua e o sol



A Alma vagueia na imensidão das horas, nas verdades que busca e que perde ao regressar. Vigilante traça voos imaginários, como uma ave engaiolada, na agitação frustrada das suas asas. O coração dorme agitado com consciência do vazio, acumulando aveludadas tristezas.

Todos nós nascemos cativos, aves de gaiola. Mas existem momentos, subtis minutos, em que a liberdade toma por referência a expressão da alma, como um sonho que se tem e que não se esquece.

A Alma não dorme, regressa ao movimento dos lábios adormecidos. No gesto involuntário do despertar, solta num murmúrio a verdade que encontrou e que da qual se despede, 

«Meu amor, a tua felicidade, longe das minhas mãos, anoitece...»