quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Quero-te outra vez...

Respiro...
Suspiro...

O corpo lateja e alma flutua no esquecimento
A loucura cometida deixa-me deliciosamente à deriva.
Sinto-me senhora e odalisca
Saciada por um momento,
sôfrega no mesmo instante...

Sim, surpreendo-te!
O meu apetite não tem limite
Apetece-me a tua voz sussurrada,
assim como os desvarios gritados
que ecoam nos recantos.

Juntos...
Despindo as máscaras e armaduras,
entre beijos repletos de carícias,
gestos que nos incentivam
a aceitar tudo o que o outro é
e a possuir tudo o que nele existe.

Sim, surpreendo-te!
Imolo-me no fogo que criamos,
Possível apenas porque amamos
amar a carne com alma.
Pouco importa que na boca dance o pecado,
Melhor sorte não tem quem assim
nunca foi amado...

Não temas pela alma perdida...
Deixa-te ir à deriva neste caudal abençoado.
Não é loucura esta alegria desmedida,
este prazer no acto consumado,
momento a que chamamos destino.

Respira...
Suspira...
Quero-te outra vez...


Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Pensamento


Se amanhã chover - e se te atreveres - sai para a rua e dá o teu rosto e o teu corpo à chuva, sente o mesmo que eu...
Se amanhã chover - e se te atreveres - poderás ver-me correndo por essas ruas com os pés encharcados pelo riso.
Se amanhã chover - e se eu me atrever - tentarei encontrar-te nas ruas desertas...

(contém hiperligação para a página de origem)

Tortura, anseio...



Cravo os dedos na tua pele, desenho um caminho escarlate.
«Assim, ferindo-te até que me traves o movimento»
Pulsos presos entre os teus dedos, olhares desafiantes
as bocas chocam intensificando o tormento...

Tortura...
Gemidos que se ferem entre dentes
lambuzam as línguas sedutoras...
As roupas esvoaçam em movimentos ascendentes.

Pele... Enfim livre da película que nos envolve
Despidos de máscaras
Vestidos das cores do desejo
Tortura, anseio...
Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Inspira, relaxa e divaga... Suspira!


Bate a porta furiosa, fecha-a como uma barragem que sustenta as águas agitadas pela tormenta.

Abre a porta do armário procura o seu reflexo trancado e como se o tempo não sentisse, admira o rosto marcado.

Inspira, relaxa e divaga...

Preocupa-a o fogo. Essa chama alta que a atormenta e a instiga a não aceitar o quotidiano bafiento, cozinhado em banho-maria.

Suspira, encostada a um canto de olhos postos numa cama que não quer ocupar. Ali, as rendas não se desfazem e as roupas não esvoaçam como lenços largados ao vento.
O espaço encolhe, como se a realidade a quisesse acordar do seu torpor. Mas que realidade?
Aquela que lhe diz que é normal que os sentidos mirrem ou a outra que diz que é por falta de amor que não sente?
Procura novamente o espelho, observa as marcas no rosto e no corpo. Não deu pelo tempo passar, mas este corre para uma meta que poucos pretendem alcançar... Pelo menos, não tão cedo.
Não pretende parar o relógio, apenas gostaria de encher as horas com mais do que o dia-a-dia de que todos se queixam.
Ela não se queixa, mas lamenta... Barricada no seu canto, afasta-se da realidade que lhe bate à porta e mergulha na espiral das possibilidades infinitas. Liberta-se da dor e abraça o fogo que sente dentro si, alimentando-o com gestos que cultivam suspiros.
Cresce um jardim naquele lugar trancado.
As trepadeiras selvagens esticam-se cobrindo tudo. Apenas a cama parece não ceder à transformação do espaço, mantendo-se aquilo que na verdade é: um espaço onde dormem vontades.
Com um brilho nos olhos, inebriada pelo perfume deste jardim secreto, ela salta perturbando os lençóis de um branco esticado. Pouco lhe importa o seu queixume, rodopia dançando, engelhando-os com a sua vontade.
A sua vontade … «Pensa, tocando nos lábios para a sentir melhor.»
Enrola o corpo nos lençóis e deita-se, ouvindo-os suspirar de alívio.
Pausa, apenas por um momento.
Um momento apenas enquanto a sua respiração se concentra no ritmo crescente.
Agarra o tecido, esfrega-o, leva-o à boca e, como lhe falasse ao ouvido, murmura:
_Por minha vontade serias sempre um lençol suado, enrolado num sorriso adormecido. Nunca esticado como se a vida apenas fosse vivida lá fora.
Rasga a renda que lhe venda a pele, arranca o tecido que lhe cobre os sentidos, deixa fluir o gemido …
Inspira, relaxa e divaga... Suspira!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Onde estás?

Onde estás?

Porque não ouves o meu grito
vindo de todas as arestas que escalei
neste abismo em que me encontro...

Onde estás?
Eu que te espero
até que a pele seque nos ossos
e a terra elimine qualquer sinal

de que existi
e que existindo
esperei
por ti!

Fotografia de Fábio Martins (contém hiperligação para a página do Autor)

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Espero que chova




Entrego-me à chuva sem receio, como se estivesse com muita pressa para ir a um qualquer lugar. Ninguém me julga na minha urgência e há sempre alguém que se esqueceu do guarda-chuva protector.

Nos dias em que, também eu, carrego esse sinal de resignação e me resguardo da chuva, brinco às escondidas sob a lona multi-colorida. Apenas as crianças sabem o que faço e porque o faço, vejo-o nos sorrisos de uma travessura inocente.Sorriem-me porque passeio transportando o arco-íris nas mãos e também eles, se pudessem, largariam as mãos protectoras e brincariam com a chuva.
Sem supervisão, já em criança dançava à chuva e ria chapinhando com as galochas coloridas nos espelhos de água. Parece-me que me vejo de braços no ar, abrindo a boca recebendo algo que considerava divino. A água que vem do céu, esperanças infantis de uma vida abençoada.

Entretanto, cresci e enamorei-me pelo sol sem que deixasse de amar a chuva. Quente e frio, expandir ou aninhar... Quero tudo! Então, estou à espera que chova porque adoro ser sol num dia cinzento, vejo o brilho e sinto-me quente, febril... Desejo que chova para que possa correr lá para fora e longe dos olhares abrigados, rir sem freio.

Correr à chuva como se corresse para o banho quente e cremoso, tão íntimo e delicado como um abraço temperado. Deleita-me e arrepia -me o seu beijo molhado, o abraço gelado das suas gotas, as dezenas de dedos que deslizam sobre a pele. Envolvente e libertador...

Corro para chuva porque não esqueço quem sou e sabendo-o sou livre!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Crescente distância

Caminham lado a lado num silêncio que perturba o vazio crescente entre eles.
Inspiram com dificuldade, até para atirar, para o ar, palavras banais como miolo de pão para as pombas do jardim. Palavras de desgaste rápido sobre o estado do tempo, a cor das pedras da calçada.

Ele olha em frente, Ela olha para o lado.
Evitam olhar um para o outro, pois sentem o constrangimento de quem queima fósforos sem obter uma fonte de calor.
Não há beijos roubados, nem dedos entrelaçados...

Ainda assim, Ele insiste em chamar-lhe amor e espera que ela o ame, apenas porque respira perto de si. Um dia terá sido assim, mas nessa altura Ele não lhe dava nome algum.

Caminham lado a lado em crescente distância, sonhos sem lugar comum.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sem nada para dizer

Falaria de mim se algo tivesse a dizer...
Mas não falo porque na minha cesta,
apenas tenho palavras mudas que colhi
Frutos do silêncio que carrego em mim.

Tenho momentos fluídos, é verdade.
Mas ainda assim não falo...
Falar sem nada para dizer é um risco
O meu silêncio dá-me abrigo.
Ema Moura

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Extensão

Fotografia de: Um outro Olhar (contém hiperligação para a página do autor)



Extensão...
É como me sinto ao enterrar os pés na areia ou a mergulhar o corpo nas águas de ondulação dócil.
Também o sinto na brisa que desinquieta a túnica e nos raios de sol que me acariciam na sua ardente textura.
Extensão da própria vida, também eu capaz de gerar, iluminá-la ou cegá-la...

Poder e desamparo, alegria e tristeza, força e fragilidade, tanto de mim que me preenche, me desorienta ou me dá alento.

Sou parte de um todo e um todo repleto de partes. Sempre senti tanto a fragmentação como a pertença ao mundo. Sempre soube olhar para coisas e para os outros. Sempre os admirei na robustez dos seus troncos ou na delicadeza das suas folhas.

Cedo soube que todos temos de lidar com a dualidade que nos compõe, a que nos fragmenta e a que nos completa. A tarefa não é fácil! Contudo, a compreensão do que somos - antes de tudo - e o reconhecer do ponto onde todas as fronteiras se esfumaçam, facilita todo o processo.

Viver torna-se assim natural e naturalmente podemos viver com os olhos postos nessa linha imaginária que não é mais que um eco do caminho que tomámos.

Extensão de mim, de ti... Horizonte.