quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Inspira, relaxa e divaga... Suspira!


Bate a porta furiosa, fecha-a como uma barragem que sustenta as águas agitadas pela tormenta.

Abre a porta do armário procura o seu reflexo trancado e como se o tempo não sentisse, admira o rosto marcado.

Inspira, relaxa e divaga...

Preocupa-a o fogo. Essa chama alta que a atormenta e a instiga a não aceitar o quotidiano bafiento, cozinhado em banho-maria.

Suspira, encostada a um canto de olhos postos numa cama que não quer ocupar. Ali, as rendas não se desfazem e as roupas não esvoaçam como lenços largados ao vento.
O espaço encolhe, como se a realidade a quisesse acordar do seu torpor. Mas que realidade?
Aquela que lhe diz que é normal que os sentidos mirrem ou a outra que diz que é por falta de amor que não sente?
Procura novamente o espelho, observa as marcas no rosto e no corpo. Não deu pelo tempo passar, mas este corre para uma meta que poucos pretendem alcançar... Pelo menos, não tão cedo.
Não pretende parar o relógio, apenas gostaria de encher as horas com mais do que o dia-a-dia de que todos se queixam.
Ela não se queixa, mas lamenta... Barricada no seu canto, afasta-se da realidade que lhe bate à porta e mergulha na espiral das possibilidades infinitas. Liberta-se da dor e abraça o fogo que sente dentro si, alimentando-o com gestos que cultivam suspiros.
Cresce um jardim naquele lugar trancado.
As trepadeiras selvagens esticam-se cobrindo tudo. Apenas a cama parece não ceder à transformação do espaço, mantendo-se aquilo que na verdade é: um espaço onde dormem vontades.
Com um brilho nos olhos, inebriada pelo perfume deste jardim secreto, ela salta perturbando os lençóis de um branco esticado. Pouco lhe importa o seu queixume, rodopia dançando, engelhando-os com a sua vontade.
A sua vontade … «Pensa, tocando nos lábios para a sentir melhor.»
Enrola o corpo nos lençóis e deita-se, ouvindo-os suspirar de alívio.
Pausa, apenas por um momento.
Um momento apenas enquanto a sua respiração se concentra no ritmo crescente.
Agarra o tecido, esfrega-o, leva-o à boca e, como lhe falasse ao ouvido, murmura:
_Por minha vontade serias sempre um lençol suado, enrolado num sorriso adormecido. Nunca esticado como se a vida apenas fosse vivida lá fora.
Rasga a renda que lhe venda a pele, arranca o tecido que lhe cobre os sentidos, deixa fluir o gemido …
Inspira, relaxa e divaga... Suspira!

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