segunda-feira, 29 de novembro de 2010

(...)"Por saber a pouco"


Um saber a pouco que te torna louco
E como de loucos todos temos um pouco,
compreendo a angústia e a esperança de sentir...

Mas o tempo não se prostra, reclama e alerta
E porque há luar, somente por isso,
Cuida para que o olhar não traia as promessas
que de um impulso, não se pensam cumprir!

sábado, 27 de novembro de 2010

Porque mereço...

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)
Porque mereço, perdoo-te todas as brincadeiras
que de falsa inocência, incendeiam-me os sentidos,
como se soubesses o quero e o que preciso
negando-me, porque mereço o castigo!

Porque mereço, sorrio perante os pequenos gestos
que contrariam a tua verdade,
Não me queres de forma alguma e no entanto,
fazes-me desejar, mais e mais...

Não vivo na esperança de te recordar o que senti,
mas anseio que vejas o que jogamos fora,
porque tudo acaba se simplesmente desistir
e nada acontece se me for embora.

E se me for, como ficarás tu?
Indiferente? Sofredor?
Na tua ignorância permanecerás incólume
mas a tua alma, de vazia, reclamará pelo amor!

Podes querer que me liberte desta dependência
Podes desejar que vá para longe,
Mas que importará a distância, se o amor é a vida
e por muito que colecciones, esta continuará vazia.

Se te despisses dessa tua pele sarcástica
Se te despisses das muralhas,
Tu e eu voltaríamos ao princípio do pecado
Ao tempo que Adão amou Eva mais do que a
qualquer Deus!

Por isso, ainda que me digas adeus sem pesar
estarei em ti, no teu sangue,
ainda que a distância te traga alívio
negar-te-á o arrebatamento dos amantes,
que já o eram antes de terem nascido!

Mas porque mereço, apenas por isso
deixo-te partir,
ainda que veja despedaçado em mil pedaços
todos os átomos do meu ser.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Insanidade

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

Não sei quanto tempo disponho
e fracamente nada disso me preocupa.
O não viver a cada dia e um ocultar de emoções a cada hora
é que se torna uma verdade que não se sustenta.

Qual o verdadeiro preço a pagar?
O meu orgulho?- Nunca me deu o queria!
Os meus sonhos? - Nunca passaram de ar colorido.
A minha alma? - Essa nunca foi minha para dar.

Qual o poço ou subterrâneo que me permite o esquecimento
Qual montanha a escalar para que tenha fim o sofrimento?
Não sei quanto tempo mais disponho e que vida terei afinal
Apenas me pergunto qual o preço do deleite, qual a causa do meu mal?

Sinto-me um quadro sem cor, que facilmente se tinge de vermelho
Rubor e sobressalto, como se fosse infante,
Desejos proibidos, beijos roubados, pressionados, brincadeiras, sorrisos
Qual o preço a pagar por um instante?

A minha vida presa por um fio e de tal forma suspensa
é uma enorme lista do que gostaria de fazer,
maior é aquela do que poderia ter, entretanto, feito.
São escolhas...de certo nunca pensadas no meu prazer.

O caos e o vazio se confundem, ambos me disputam
mas nenhum me traz a paz que necessito,
nem sacia a fome que trago e que sinto!

Eu vou contigo! Grito devolvido pelo eco
enquanto me atiro nesse negro abismo,
sem para-quedas, sem corda de segurança.
Dá-me só o que preciso!

Se não me devolves a alma
pelo menos, cuida dela.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Faltam-me as palavras

As gotas da chuva deixam-me inquieta, são como pedrinhas atiradas à minha janela incentivando-me a sair. Um encontro com a chuva é ser presente a uma assembleia de vozes, tão claramente audíveis, assim que as primeiras gotas tocam o meu rosto e se afundam num lago interior, fazendo-me transbordar.

Se olhassem para os meus olhos apenas obteriam um mero reflexo do imenso caudal que contenho. Uma maré viva que absorve o poder da tempestade e arrasta as frágeis barreiras que ergo num esforço para me conter.

O vento fustiga a minha janela aumentando o volume do apelo da chuva e a minha gargalhada - pura, como um rugido, uma disposição selvagem - agita-se nas entranhas e faz saber aos grilhões que se quisesse poderia ser solta.

Ainda que, atentamente, observassem o contorno do meu sorriso, jamais imaginariam a força da minha ira e nem a luta que travo para a impedir. Bastaria abrir os braços e deixar fluir a energia eólica que me atiraria para longe...confiando-me ao desconhecido. Sempre o evitei para que não fosse catalisador de tal propulsão.

Os toques ora suaves ora impacientes entoam por toda a casa, esforço-me para não os ouvir, mas sinto-me a emergir da escuridão. A água apenas alimenta o fogo grego que me consome e a mais tímida centelha inflama violentamente. Com a luz, a verdade não se pode renegar.

Faltam-me as palavras para descrever o que vejo, como explicar que a ilusão impostora perturba a paz e a realidade nunca teve um porto de abrigo?
Ainda assim lancei a âncora, mas esta não se fixa, é subtilmente arrastada como se a tivessem convidado a dançar e o seu par a fizesse rodopiar sem parar.

Se examinassem o meu coração veriam o que me encanta e palavras faltariam para que pudessem dizer:
_ Não é o inferno e nem é o paraíso. Tudo o que não sangra arde e tudo o que não arde sangra!
Renasce em si mesma, parece ser a ideia mais certa. Mas faltam-me as palavras perante a torrente de emoções que nos assaltam!

É a certeza da chama num poço sem luz, a agonia da espera, um prazer que seduz!
Pudessem vocês sentir...porque faltam-me as palavras para descrever algo assim.

sábado, 13 de novembro de 2010

Pequeno cosmo

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

Vinte anos passaram desde que aqui vim... Não dei pelo tempo passar...
Tinha prometido que na primeira oportunidade voltaria a este lugar. Não vim mais cedo por receio de acordar águas que se agitam à menor brisa.
Mas esta noite não poderia estar em mais lado nenhum... A mesma noite, vinte anos depois... Agora, beberei sozinha e brindarei à lua e às estrelas que permanecem no lugar, tantos anos depois.
O portão está aberto, o espaço acessível, o banco deserto.
Avanço cautelosa, coração em sobressalto por cada gargalhada que parece ouvir. As nossas vozes estão gravadas naquele lugar e as emoções estão ao rubro. Os sentidos recordam-se, pensei que tivessem esquecido.
Sorrio para os jovens clandestinos que revejo ali, naquela hora e naquela noite... Não sabem da sua sina, deixo-os assim. Tudo o que posso fazer é agradecer-lhes pelo momento em que existiram mais corajosos e mais verdadeiros do que alguma vez viriam a ser. Ali estavam eles representando para mim um diálogo que sabia de cor.
Está calor, refresco-me na espuma borbulhante da taça improvisada.
Absorta na espiral de um tempo perdido, perdida para o movimento presente. Alheia ao que me cerca, não dou pelo estranho chegar. Um vulto de caminhar apressado como se quisesse recuperar os minutos do seu atraso. Também ele vinha para aquele lugar. «Não é só nosso» - segredei como se os meus jovens conhecidos pudessem escutar...
Suspirei e ignorei o estranho... Nenhum sinal de alerta, nenhum perigo anunciado. O momento era de contemplação, a cena decorria perante os nossos olhos e os diálogos retomavam o seu curso.
Escuto o som da felicidade, rio-me também. É amor e eles não sabiam, não o queriam, querendo… Antagonismos próprios da idade.
Retomo a linha do diálogo em pensamentos que fluem alto, escapa-se o som da garganta, seguido de um murmúrio vindo da sombra. O estranho soprava-me ao ouvido as respostas às minhas falas. Era a voz de um homem que preenchia a voz do menino.
« Ele conhece as palavras.. Conheceu-te um dia.»- Bombeia o sangue carregando-me de eléctrica mensagem.
Os jovens estavam suspensos, olhando o Futuro. Eu via-me forçada a encarar o Presente, segui o som, olhei para trás.
«Ali está ele!» - suspiro da emoção luminosa em meus olhos.
A cena repetia-se, o Passado era Presente e amadurecido. As vozes embargadas pelo pó sufocante nas gargantas respondiam com palavras antigas.
Está calor, refresco-me na espuma borbulhante da taça improvisada. Ele sorriu. Os meus lábios hidratados pelo espumante, ofereciam uma visão de alívio. A hora era chegada e a vontade antiga preenchia o lugar, envolvendo-nos.
Um passo em frente e os nossos corpos assumem o seu devido lugar na história. A cada passo dado sentia que a juventude diluída era bebida pela memória. Agora era o que deixámos continuamente escapar.
Olhos nos olhos, vontades iguais, compreendidas e aceites.
«Ele ria de olhos estrelados, sorriso de lua» - estremeci, rodeando-o como um laço que enlaça bocas em abraços de desejo.
Mãos trémulas, carregadas de ambição carnal, coração pedinte pelo seu destino, lançaram ao vento a roupa que ele vestia. Tarde demais para a peça de roupa que trazia… O vestido era novo, mas a vontade antiga ditou os termos da sua rendição. Caía rasgado na urgência, assim como todos os medos que envolviam aquele momento.
No ar, rodopiando, entre abraços que comprimem os corpos e que os encaixam, palmo a palmo. No colo, ele a carregava para não mais a deixar fugir. O mesmo banco moldava-se para os receber.
Os cabelos negros de um cobriam-se com os cabelos negros do outro. Os dedos entrelaçados pulsavam ao ritmo de uma respiração ofegante. Corpos nus, iluminados por uma luz difusa que emanava de dentro para fora. Não era preciso olhar para lua e para as estrelas, tudo estava ali nos olhos que se perdiam no olhar do outro. O nosso pequeno cosmo, a nossa origem, o amor e vida, o inicio.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Travar a chama


Se eu pudesse dava-te caça, atirando a matar
e as lágrimas derramadas seriam de alívio.
O meu peito encher-se-ia de ar e respiraria
ardendo, por uma última vez, por algo sem sentido.

Se a paixão fosse varrida da face deste mundo
poderia ignorar o vulcão que ruge e te reclama,
Jamais sentiria a dor do brasão marcado na alma
e a minha pele deixaria de dizer que te ama.

Se eu pudesse dava-te caça, sufocava-te
esvaziando o meu peito num suspiro,
ainda que ame a dor que sinto
magoa-me mais, amar-te sem sentido!

Não tenho ilusões, não te elevei à condição de santo
Amo todos os teus defeitos!
Como se tivesse nascido para os adorar
Detalhes de ti que te tornam perfeito!

Ainda assim, pela sede que me provocas
pela loucura que me inquieta,
pelo desejo que me faz tremer
matar-te-ia se pudesse travar a chama!