terça-feira, 23 de novembro de 2010

Faltam-me as palavras

As gotas da chuva deixam-me inquieta, são como pedrinhas atiradas à minha janela incentivando-me a sair. Um encontro com a chuva é ser presente a uma assembleia de vozes, tão claramente audíveis, assim que as primeiras gotas tocam o meu rosto e se afundam num lago interior, fazendo-me transbordar.

Se olhassem para os meus olhos apenas obteriam um mero reflexo do imenso caudal que contenho. Uma maré viva que absorve o poder da tempestade e arrasta as frágeis barreiras que ergo num esforço para me conter.

O vento fustiga a minha janela aumentando o volume do apelo da chuva e a minha gargalhada - pura, como um rugido, uma disposição selvagem - agita-se nas entranhas e faz saber aos grilhões que se quisesse poderia ser solta.

Ainda que, atentamente, observassem o contorno do meu sorriso, jamais imaginariam a força da minha ira e nem a luta que travo para a impedir. Bastaria abrir os braços e deixar fluir a energia eólica que me atiraria para longe...confiando-me ao desconhecido. Sempre o evitei para que não fosse catalisador de tal propulsão.

Os toques ora suaves ora impacientes entoam por toda a casa, esforço-me para não os ouvir, mas sinto-me a emergir da escuridão. A água apenas alimenta o fogo grego que me consome e a mais tímida centelha inflama violentamente. Com a luz, a verdade não se pode renegar.

Faltam-me as palavras para descrever o que vejo, como explicar que a ilusão impostora perturba a paz e a realidade nunca teve um porto de abrigo?
Ainda assim lancei a âncora, mas esta não se fixa, é subtilmente arrastada como se a tivessem convidado a dançar e o seu par a fizesse rodopiar sem parar.

Se examinassem o meu coração veriam o que me encanta e palavras faltariam para que pudessem dizer:
_ Não é o inferno e nem é o paraíso. Tudo o que não sangra arde e tudo o que não arde sangra!
Renasce em si mesma, parece ser a ideia mais certa. Mas faltam-me as palavras perante a torrente de emoções que nos assaltam!

É a certeza da chama num poço sem luz, a agonia da espera, um prazer que seduz!
Pudessem vocês sentir...porque faltam-me as palavras para descrever algo assim.

Sem comentários:

Enviar um comentário