quinta-feira, 28 de abril de 2011

Provocações poéticas II - Amor infeliz

Resposta a desafio na PEAPAZ

Provocações poéticas - I - Poeta

Resposta a desafio na PEAPAZ

terça-feira, 26 de abril de 2011

Porque não te amo


Pouco me importa a razão deste querer que te quer tanto
Pouco me importa que te encontre só para te afastar
O que me dás sem nada me dares... Enfim!
O que tenho ainda que não te tenha... Tenho tudo, tenho tanto!

Amo-te, sem amor!
Amo-te com dor
e no fervor deste desamor
Amo-te e carrego-te comigo para onde for...

Para onde for sem olhar para trás, ainda que sabendo
que tu, amor, és uma porta que deixei por abrir!
Não penso voltar... Eu sei que não voltarei...
Cravei-te em mim e tenho tudo o que preciso.

Por isso, amor, pouco me importa o teu sentir
Tenho-me plena nos sentimentos que juntei
Pequenos retalhos da nossa curta vida
Pequenos detalhes que tanto amei.

Amo-te e não te quis e não te quero
O teu sorrir é o meu desassossego
E se fosse tua nunca poderia partir
E se fosses meu, não o serias o suficiente...

Mas amo-te nesta ilusão que amo
Amo-te no que nunca deste e no que não tenho
Se não fosse este desejo insano,
ter-te cravado não me doía tanto!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

domingo, 24 de abril de 2011

Não pode ser amor


Vagueava pela rua quando os meus olhos cruzaram com os teus e o meu coração bateu em falso, levando tempo para retomar ao seu normal compasso.
Um sorriso tímido te lancei, como um " Olá" e um "Estás aqui", para que saibas que a tua presença foi notada e que a apreciei.
Uma vez mais, caminhar em frente, deixando-te para trás, se mostra uma tarefa de difícil digestão. Cada passo no sentido oposto ao teu é um gesto necessário que o meu corpo executa sem compreender.
O tempo parece parar. Quem me dera que parasse no momento em que os nossos olhos se cruzam. Vejo-me assim ardendo tranquila na certeza do infinito. Todo o tempo para te olhar, ainda que não te tocasse, como linhas paralelas convergindo para um horizonte comum.
Isto que sinto não é amor. Não pode ser.
O amor dá frutos e esta obsessão não só não me dá nada, como me rouba tudo o que construí. É verdade! Estou a fazer regressar ao pó tudo o que edifiquei. Creio que nos escombros e no mais completo vazio encontrarei uma razão que faça sentido e que explique porque me sinto como sinto quando estou ao pé de ti e que me diga porque te sinto quando passo uma vida sem te ver.
Isto que sinto não é amor. Não pode ser.
Hoje conheço uma mágoa profunda, onde a raiva transfigurou o meu desejo num cio avassalador. Queria-te tanto que não te poderia dizer... Se o dissesse - pensei- seria como colocar uma coleira no meu pescoço e a trela na tua mão...
Isto não é amor. Não pode ser.
Lutei contra a minha vontade quando te pedi que me colocasses no chão quando estava capaz de fazer amor contigo ali mesmo, sob o sol daquele candeeiro e na cama daquela parede. Antes dar-me a provar nas areias douradas a outro qualquer, do que perder-me, achando-me em ti.
Um olhar e eu afasto-me com passos apressados, nas mãos a garganta contendo o rugido. Na distância encontro uma vítima, solto a selvática ordem, um imperativo do verbo querer e tomar.
_Quero-te e tomo-te... És meu!
Não é um grito, mas um rugido que se descola e arranha as paredes vocais até à superfície. A presa reage atordoada por tamanho arrebatamento e deixa-se devorar... O seu sacrifício acalma-me, mas não me satisfaz. Sou eu quem controla e isso basta-me no momento em que o meu desejo reclama que me perca.
Sei no meu íntimo que contigo seria como se me privasse de respirar e tivesse o maior prazer em sufocar lentamente... Anseio por te ter, mas na verdade tenho igual medo. Olho para ti e esqueço-me de inalar. Na verdade não há nada que me recorde.
O tempo não pára de facto, mas o mundo desaparece...
Isto não é amor. Não pode ser.

sábado, 23 de abril de 2011

Inspirado em "Doce espera" de Geraldo Coelho Zacarias, PEAPAZ

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Só porque não estás apaixonado...



Foi por acreditar que não me amas

que eu não estou agora ao teu lado.

Falei-te da tua falta de paz, engoli o não dormir

Desviei de ti, o meu olhar apaixonado...

Na minha dor de amor pedi tudo de volta
Para quê guardar algo meu, tu que não me amas
A tua recusa em devolver o meu retrato é um acto cruel
Pensar que pensas em mim, mantém-me em chamas...

De igual modo fatal foi ver o meu nome em verso
O amor que sinto quase confesso
Não tivesses tu falado em amizade,
toda a resistência teria caído debalde!

Eu sei! Eu sei que não estás apaixonado!
Revivo a nossa história e repito vezes sem conta.
Tudo o que vi é passado, nada do vivi foi real
O teu amor por mim era apenas carnal...

Afasto-me com o coração em prantos
Os olhos estilhaçados pelo ardor
O corpo marcado pela tortura do desejo
Só porque não estás apaixonado, meu amor...


Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)
Inspirado no poema "Não estou apaixonado" de Geraldo Coelho Zacarias, em PEAZPAZ

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Acorda Clara... Por favor!


Não existe um final feliz nesta história, pelo que, ficam desde já advertidos para esse facto.
Clara se alguma vez duvidou que o caminho escolhido era contra natura, cedo confirmou as suas suspeitas. Ela optara pelo fel e com essa decisão viveria resignada e por essa decisão daria o melhor de si.
Clara era uma jovem que espantava os seus pares com a sua beleza inquietante e uma inteligência incisiva. Desde tenra idade diverti-a descortinar os enredos, descobrir os culpados das tramas. Algo que fazia muito bem dentro e fora do espaço de ficção, desde que não fosse ela própria um alvo. A ela não se via e todas as suas capacidades eram inúteis para sua defesa. Aliás, no que lhe dizia respeito nenhuma advertência surtia em Clara o efeito desejado, dado que ela , simplesmente, se entregava em sacrifício, em prol dos seus ideais românticos.
_ Nasci marcada por um sentido de missão! - Diria ela com toda a convicção, embora com um triste e sonhador sorriso, pedindo-vos que desviem os olhos dos cacos de vidro que optou pisar.
Existem pessoas assim que não pisam a relva fofa porque o caminho não lhes pertence. Outros existem que não querem saber e à mínima contrariedade invadem os terrenos vizinhos como se nada fosse.
Clara sabe que exagera. O seu zelo pelos outros chega a ser um acto de auto-flagelação. Ela dá o corpo à dor e deixa que esta amordace a sua alma no seu objectivo primordial de crescer e ser feliz.
A vida é misteriosa, um nevoeiro espesso que serpenteia como língua de gelo.
Quantas vezes pensamos, em demasia, nas coisas que perdemos ou que não temos... Na verdade tudo o que perdemos de mais valioso é Tempo. Tempo que podemos passar connosco e com os outros. Mas não vemos até ser tarde demais... Depois haverá Tempo para reflectir.
Ainda que acreditando na pureza das intenções, Clara sabe do que abre mão de cada vez que inspira e se força na trilha da dor. No caminho, foi despindo e despedindo-se da fé nos outros. Naturalmente, Clara já não acredita em si. Talhada foi para se abrir ao mundo, pelo que, não tem como se barricar dentro de si. Ela é pertença de outros... Nunca foi apenas sua e nada tem de seu.
Conseguem visualizar?
Fechem os olhos. Sintam as carícias do vento nos seus negros cabelos, contemplem os contornos da rosa em seus lábios, percam-se nas curvas alvas que serpenteiam o seu corpo. Esqueçam os pés pequenos e magoados.
Abram os olhos. Vejam as estrelas flutuantes no olhar dela. Vejam como os seus olhos sorriem, ainda que mergulhados numa calda angustiada. Esqueçam as lágrimas dentro do brilho, vejam o amor.
O Amor que Clara abraça como uma noção do qual depende como o ar que respira.
O Amor do qual é profeta e nunca destinatária.
Clara ama e não se deixa amar. O amor é uma gravura no horizonte. O caminho é longo e estilhaçado. Na trilha do amor sem o poder tocar. Tocada sem o poder sentir...
Clara sorri nas lágrimas que verte e que descem ondulantes acariciando o seu corpo, beijando os seus pés.
_Anda Clara! - parece-lhe ouvir - Vem e escolhe a liberdade... Escolhe a liberdade...
Abre os olhos e continua o seu caminho ainda que meia adormecida, para que sinta apenas meia dor.
_Clara! - ouve-se o vento por entre os seus cabelos, brincando no tecido que lhe cobre o corpo e lhe venda a alma.
Ele ama-a e Clara não sabe, não sente. Pergunta-se no seu torpor por que caminhos andará o seu amor.
Acorda Clara... Por favor!

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

terça-feira, 19 de abril de 2011

Penso, rendo-me e sorrio

Viro a cara ao vento porque me beija com areia, não obstante, a praia está como gosto: propícia a passeios pensativos.
Os pensamentos são como uma constante monção: inundam-me e dão-me vida.
Gosto de pensar.
Umas vezes deixo os pensamentos fluírem, outras procuro sabotar o seu curso ou dominar a ordem do dia. Tarefa ingrata, esta última.
Sorrio...
Penso como sorrio bastante quando estou a sós. Talvez seja porque não preciso justificar o sorriso, dizer porque existe em cada momento que emerge. Imagino que a musa do Mona Lisa não terá tido descanso. Com um sorriso tão enigmático deve ter sido assaltada por muitos inquiridores...
_ Ah, Mona Lisa que segredos ocultas no teu misterioso sorrir? - Penso e sorrio.
Prossigo o passeio por entre as rochas. Procuro o meu sofá revestido de algas. Local onde me instalo e me entrego ao que apetece.
Hoje, não há ordem do dia, no entanto, gostaria que não nos tivesse no horizonte interior… Estou verdadeiramente saturada de sonhar acordada. A corrente de imagens é forte e eu...ou remo contra ou deixo-me levar. Qualquer uma das opções é cada vez mais esgotante.
Imaginem um data show ininterruptamente passando as mesmas imagens. Não importa onde estejam ou o que estejam a fazer! Se combato, as imagens ficam ali encravadas, martelando a cabeça, ainda que finja não ver ou sentir. Se me deixo levar, o olhar fica vazio. Ausento-me enquanto mergulho na corrente de lava que existe dentro de mim.
_ Normalmente, acalmo a viagem com um banho frio... - Penso e sorrio.
Por cada recordação real, mil dados novos dão novo colorido à ficção. Registo uma vida repleta de gestos que não existiram e respiro com dificuldade perante as emoções que sufoquei.
Dizem que o tempo apaga tudo, mas eu continuo a rever, com muita clareza, todos os passos que dei para perpetuar o meu jejum. Neguei-te e isso fez de mim uma Judas. Condenada a inspirar sem ficar inspirada…
Suspiro e levo as mãos aos lábios e ao peito, sinto o toque da lava em mim… Se te olhasse teria a boca naturalmente pintada de vermelho vivo. De olhos semicerrados ouço, com atenção, a respiração crescente.
_ Virada para mim mantenho-me quente. – Penso e sorrio. Deixo-me ir…
Da minha poltrona vejo o mar. A primeira vez que me tocaste também tínhamos o mar pela frente. Provavelmente, não te recordarás mas rir era uma constante entre nós. Não era preciso perguntar porquê.
Sempre estranhei essa tua capacidade de extraíres de mim toda a dor. Através de ti, tinha acesso a um mundo desconhecido e eu não acreditei na felicidade que me oferecias. Duvidei como uma criança nascida de um ventre sacudido, espancada à nascença. Tu não o sabias e eu não o contei, a dor era a minha zona de conforto e o ambiente que viria a reproduzir.
_ Acreditei que me darias acesso a uma felicidade maior, para depois me deixares cair num patamar abaixo da condição miserável em que vivia. Ao crescer, a época de caça abriu durante todo o ano e eu não aceitei que te tornasses num mero caçador. Qualquer um, menos tu… Parece-te lógico? – Sorrio e penso.
Não obstante, certa noite, o meu corpo vestiu-se de seda perfumada e a pele ardeu numa febre que se alimentava de olhares, sorrisos e beijos. Não transpus a porta do meu quarto. Ali fiquei trémula e quente. Não compreendi o que sentia e hoje mesmo, confesso, jamais ter sentido desejo igual. Nem a melhor sequência de orgasmos teve o mesmo impacto, a lava limita-se a correr, vagarosamente, os canais ocos em mim. Não há lugar a explosões de desejo, apenas estremeço numa contracção involuntária e convulsiva dos músculos, um encerrar das horas de prazer proporcionado.
_ Orgasmos sem êxtase! Apenas alívio, descompressão… - Sorrio e penso.
Ainda que não saiba o que é fazer amor no mais puro arrebatamento e na mais apaixonada entrega, sei o que é o sexo puro e duro a que chamam de amor. Talvez também o seja, não sei… O único termo de comparação está no beijo que não incendeia, no pulso que não acelera, na face que não arde.
_ Os teus beijos eram como ferros incandescentes e os teus olhos um vertiginoso abismo. Caí e fui marcada com o meu próprio fogo, assim o repete a lava no seu devastador deslizar… - Sorrio e penso.
De olhos fechados, voltada para nós, ardo nas horas que roubo para mim. Deixo-me ir e um ritual antigo recomeça… Os meus cabelos levo à boca, os dedos deslizam pelo rosto, as mãos espalham cabelos na almofada, os nós mordo e desato, o corpo lateja na vontade insana de te ter, realmente, um dia, uma vez…
Viro a cara ao vento porque me beija com areia. Penso, rendo-me e sorrio.

domingo, 17 de abril de 2011

Não te dispas...Ainda...


Cala a boca, deixa apenas o sorriso!
Não te dispas... Ainda...
Quero olhar para ti, saciar a saudade que sentia de só te ver com os olhos da Alma.
Eu sei quem és e a quem pertences, mas não te reclamo.
Apenas porque te amo, deixo-te sempre ir vestido das certezas que te defendem neste mundo.
Apenas porque te desejo com todo o sopro da vida, tenho de fazer cair cada peça de roupa que trazes vestida.
Mas por ora não te dispas... Não quero distrair-me enquanto olho para dentro de ti...
Eu vejo-to! Assim como o fio que atei para que te pudesse encontrar sempre...
Mas porque te amo, somente por isso, vejo-me obrigada a recuar quando te descubro.
Mas porque te desejo, somente por isso, tenho de ter sempre que te encontro.
Cala a boca, deixa apenas o sorriso!
Sabes que te largo para que me encontres também!
Abre a boca apenas quando puderes dizer que me vês como eu te vejo a ti.
Somente nesse momento, amor, deixa as roupas no chão e vem até mim.



Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)


sexta-feira, 15 de abril de 2011

Uma sede crescente...


Noites quentes, maré de multidões.
Rumo sem bússola de encontro ao destino. O meu signo diz que este mês eu vou ver-te... Para que me encontres vagueio pela rua todas as noites. Nunca entro em lado nenhum, limito-me a passear, mas hoje, tenho uma sede incómoda.
Um lugar pequeno com balões de luz suspensos atraia o meu olhar, a música que parece suspirar atrai os meus ouvidos. Ali estou parada, mordendo os lábios enquanto a sede consome-me a garganta.
Dirijo-me ao balcão, peço um gin tónico forte, a sede é imensa...
Sento-me ainda com os olhos no balcão e no copo que se prepara para mim. Ao desligar o olhar da sede, deixo-o deslizar pelo ambiente, Ao voltar a atenção para o que está à minha frente recebo o copo que pedi... fecho os olhos e sinto o vapor que se forma na garganta. Ao abri-los, estás tu sentado na minha frente, olhando-me como eu te olho.
Os nossos olhares são como ganchos que se encaixam e nós estamos agarrados a uma sincronia sem igual.
Eu bebo, tu bebes.
Eu toco-me, tu tocas-te...
Eu engulo, tu engoles...
Eu levanto-me, tu levantas-te...
Eu caminho, tu caminhas...
Sinto os teus passos, o som ecoa nos meus olhos que brilham.
Abro o carro, tu entras.
Nem uma palavra proferida, um caminho traçado. Simplesmente deixamos-nos ir...
À minha frente as habitações escasseiam e dão lugar à vegetação. À direita um caminho de terra batida, depois à esquerda um arvoredo extenso. Estaciono no centro, desligo o motor.
Eu abro a porta, tu abres a porta.
Eu deslizo, tu deslizas...
Olhos nos olhos, dispensando todas as palavras.
Estamos frente a frente. Tu olhas para a porta do carro e para os assentos de trás, eu encosto-me ao motor do carro e vou subindo.
Observas os meus passos, o som ecoa nos teus olhos que brilham.
Estou deitada no tejadilho sem inveja do céu, quero-o oculto... O meu desejo é concedido à medida que te vejo chegar. O teu rosto cobre todo o campo de visão e o teu corpo cobre o meu...
O teu sorriso arranca o primeiro som da minha garganta em chamas.
O meu gemido atrai o teu.
Os nossos lábios abafam o som que produzimos e os dedos nos cabelos expressam a intensidade do que não dizemos... Os beijos que trocamos fazem arquear os corpos. O meu arqueia e abre-se, o teu cresce e fecha-se...
Sinto cada toque, cada movimento como um sopro de fogo crescente. A garganta explode num redemoinho de gemido, riso e dor. O prazer é tão intenso que doí!
Empurro-te, afasto-te, tu deslizas para o lado.
Olhos nos olhos, sorriso rasgado, garganta em chamas.
Deslizo até ao capô de corpo fechado, perdido de riso...
Tu desces e de pés no chão chamas-me para terra. Sem uma palavra, um deslizar de mãos que puxam o meu corpo para ti.
Eu deixo-me ir...
Já não sinto as costas no carro, estou no ar, estou na terra...
Estou contigo...
Contigo!
Estou em chamas e a minha sede é crescente...

                       
                                            

quinta-feira, 14 de abril de 2011

As noites da Pantera...

A noite chegou como se alguém tivesse atirado um pano escuro sobre o sol. Com ela, as nuvens de humor negro explodiram em gargalhadas de luz e risos grossos em forma de lágrimas.
Sobressalto a cada raio, passo agitado orientado para o abrigo.
A imagem da paragem de autocarro, à entrada do parque, serve de consolo, assim como a do banho de imersão e a da chávena de chá quente.... Corro, sem me importar com os lençóis de água que me encharcam os pés e salpicam o corpo.
A chuva e o eco dos meus passos, a trovoada e o compasso do meu coração têm um efeito afrodisíaco em mim, como aquela dança que dança e enrola sem par.
Abrando para apreciar o meu próprio medo, solto o riso com a mesma ferocidade do trovão, estico-me como se não pudesse esperar pelo toque da água. A minha mente é ágil como o salto da pantera, as minhas unhas obedecem ao comando e transformam-se nas garras que cortam o tecido.
Eu já não sou a potencial presa, tarde demais para isso. A transformação já se deu e cada passo meu é um ronronar felino... Lambo os lábios e identifico sabores... Brinco!
Salto e brinco sem me preocupar, livre estou de qualquer orientação. Dou o corpo à vegetação e esta ou cede ou quebra!
A luz de um céu electrificado não me desorienta, rosno a cada ameaça... Desafio!
Enrolo-me nos lençóis de água, deslizo no verde escuro do chão alagado. Sem medo, sem pressa.
Despejo a taça da moral humana, deixo transbordar a taça do animal.
A minha língua na minha pele, como um gato que lava a pata.
Cuidados de mim para mim.
O céu agita-se, ilumina-me o corpo com os seus flashes e eu grito-lhe:
_ Também os meus olhos brilham no escuro!
Estamos em transe, o céu e eu!
Tudo se encaixa com a mente vazia (há espaço para rodar as peças).
Não dou pelas rajadas de vento que empurram a tormenta para longe e as nuvens já não dão gargalhadas, têm a boca aberta pelo espanto e deixam a lua escapar.
Ali fico eu, alinhada com o mundo natural, como se flutuasse... Não estou à deriva, não poderia ainda que quisesse!
Na pálida luz vejo o fio que me prende ao lugar e à forma. A brisa espalha-me, deliciosamente, o seu sabor pela boca e os meus olhos cravam-se na silhueta que reconheço, procurando o brilho dos seus dentes. Logo os terei mais de perto infligindo-me uma dor prazerosa...
Não é amor o que fazemos, é guerra. Damos o corpo à luta até que o cansaço nos vença. Nessa altura, viro costas e cada passo meu é um ronronar felino.
Tal como não existe um amanhecer a dois, também não há lugar para o adeus.
Outras noites serão as noites da Pantera...



quarta-feira, 6 de abril de 2011

Uma vontade que não cansa...


O morder do lábio inferior é mais ruidoso que os passos que dou, assim como o movimento dos lábios que deixa escapar desejos e sorri...
Observo o teu dormir, ainda transpirado e suspirante.
Eu estou desperta, atenta aos minutos de um relógio pouco apressado.
Interrogo-me de quanto tempo necessitarás para esse sono descansado. Quero-te assim ainda molhado ou deixo-te secar?
Giro na ponta do pé e flutuo até à parede mais próxima. Encosto-me e sinto-a fria na minha pele quente... Não tempera, não acalma e nem abranda, apenas refresca.
O movimentos dos lábios que sorri é mais ruidoso que o toque no tecido que me veste a pele. Um tecido diferente do que aquele que repousa agora no chão do quarto, lugar para onde foi atirado e esquecido... Já teve o seu minuto de destaque, já mereceu a tua atenção.
Deixei-te dormir e escapei do teu abraço.
Água bebi pelo corpo todo, novas fragrâncias esfreguei na pele.
A gaveta abri com todo cuidado e os dedos esvoaçaram carinhosamente por entre os tecidos ali guardados. Em bicos de pé, de lábios ruidosos procurei uma textura compatível com o aroma e com a vontade.
A vontade que não pára, apenas abranda para depois acelerar no plano que concebe e nos gestos que o tornam claro.
Agora estou aqui nesta parede nua que me recebe e neste calor que não cessa.
Um movimento teu e o sorriso dilata-se, observando a mão que procura o calor que deixei na almofada nua.
Outro movimento teu indica que a tua pausa está à procura de mim.
O movimentos dos meus lábios são mais ruidosos de que as mãos que imprimem ao tecido a vontade que aumenta e que tem um plano desenhado.
Quero-te acordado e de pé!
Sorriso rasgado, inundado por cada movimento teu.
A ponta de pé gira e mostra-te toda a pele que o tecido não cobre.
Encostada à mesma parede arregaço o tecido muito lentamente, parando por instantes a cada sorriso teu.
Estás desperto e alerta lês o plano que desenhei no meu olhar.
Nos teus olhos antevejo as surpresas que me reservas, os gestos que espero quando a investida não tem freio e nem qualquer desenho.
Aproximas-te como um íman e as tuas mãos entram no jogo do tecido que dança de forma ascendente. Vejo-me enroscada no teu corpo, subindo a parede de costas, apreciando a sua nudez e a sua diferente temperatura.
Logo sofrerá do mesmo calor...- Último pensamento que dispo perante a hora do não pensar.
Concentro-me no som que te escapa da boca, sinto o tecido a rasgar.
Esqueço tudo o resto, entrego-me a uma vontade que não cansa...

Fotografia de autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)