segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Exalar




Uma vez mais, respiro fundo e preparo o caminho para partir.
Tu, ficarás perdido no tempo, retido num qualquer lugar
Sim, desta vez, não virás comigo, repito enquanto faço as malas
E desta vez, eu sei que não existe razão para ficar.

Aborreço e irrito-te! Sim, vê como te afasto!
É preciso ter faro, porque sou imperceptível.
O meu movimento não faz ondas, é subtil
e quando deres conta serei inatingível.

Será como se nunca tivesse existido!
Palavras caladas pelo vento,
verbos varridos pela chuva
sentimento abandonado ao relento.

As malas faço a cada gesto teu,
um desgosto, mais uma peça embalada
Ainda assim, o armário ficará repleto
deixo-te todos os sonhos e todas as lágrimas.

Quero partir! Passo leve, impulsionado pela esperança
de um novo começo, um novo número, uma nova morada
Sim, quero sorrir! Leve, rasgado, profundo sorriso...
Sim, quero dançar! Ondulante ventre, alma ritmada.

Porque o sorriso e a dança sou eu
tal como é, o sentir e a poesia
Eu vou partir e tu não virás comigo
e eu...eu não irei indiferente.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Ser mulher

Ainda que tivesse mil rostos, todos eles tão diferentes, ainda assim, se soubesses quem sou, saberias sempre revelar aquele que mais me concentra.
Ainda que tivesse mil máscaras, todas elas representando distintas emoções, se soubesses como sou, saberias identificar sempre a mais pura e a mais concreta.

Pinto-me de uma forma abstracta porque não conheço outra forma de ser mulher.
Quantas faces posso ter e como provar que são todas verdadeiras?
Nem mesmo tu, homem, és só um... ainda que não aceites a verdade.
Atenta, por uma vez, aos ricos detalhes que levo perante os teus olhos.
Recorda como a vida de uma mulher é feita de estilhaços, mas também por milhares de cores.
Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

(...)"Por saber a pouco"


Um saber a pouco que te torna louco
E como de loucos todos temos um pouco,
compreendo a angústia e a esperança de sentir...

Mas o tempo não se prostra, reclama e alerta
E porque há luar, somente por isso,
Cuida para que o olhar não traia as promessas
que de um impulso, não se pensam cumprir!

sábado, 27 de novembro de 2010

Porque mereço...

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)
Porque mereço, perdoo-te todas as brincadeiras
que de falsa inocência, incendeiam-me os sentidos,
como se soubesses o quero e o que preciso
negando-me, porque mereço o castigo!

Porque mereço, sorrio perante os pequenos gestos
que contrariam a tua verdade,
Não me queres de forma alguma e no entanto,
fazes-me desejar, mais e mais...

Não vivo na esperança de te recordar o que senti,
mas anseio que vejas o que jogamos fora,
porque tudo acaba se simplesmente desistir
e nada acontece se me for embora.

E se me for, como ficarás tu?
Indiferente? Sofredor?
Na tua ignorância permanecerás incólume
mas a tua alma, de vazia, reclamará pelo amor!

Podes querer que me liberte desta dependência
Podes desejar que vá para longe,
Mas que importará a distância, se o amor é a vida
e por muito que colecciones, esta continuará vazia.

Se te despisses dessa tua pele sarcástica
Se te despisses das muralhas,
Tu e eu voltaríamos ao princípio do pecado
Ao tempo que Adão amou Eva mais do que a
qualquer Deus!

Por isso, ainda que me digas adeus sem pesar
estarei em ti, no teu sangue,
ainda que a distância te traga alívio
negar-te-á o arrebatamento dos amantes,
que já o eram antes de terem nascido!

Mas porque mereço, apenas por isso
deixo-te partir,
ainda que veja despedaçado em mil pedaços
todos os átomos do meu ser.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Insanidade

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

Não sei quanto tempo disponho
e fracamente nada disso me preocupa.
O não viver a cada dia e um ocultar de emoções a cada hora
é que se torna uma verdade que não se sustenta.

Qual o verdadeiro preço a pagar?
O meu orgulho?- Nunca me deu o queria!
Os meus sonhos? - Nunca passaram de ar colorido.
A minha alma? - Essa nunca foi minha para dar.

Qual o poço ou subterrâneo que me permite o esquecimento
Qual montanha a escalar para que tenha fim o sofrimento?
Não sei quanto tempo mais disponho e que vida terei afinal
Apenas me pergunto qual o preço do deleite, qual a causa do meu mal?

Sinto-me um quadro sem cor, que facilmente se tinge de vermelho
Rubor e sobressalto, como se fosse infante,
Desejos proibidos, beijos roubados, pressionados, brincadeiras, sorrisos
Qual o preço a pagar por um instante?

A minha vida presa por um fio e de tal forma suspensa
é uma enorme lista do que gostaria de fazer,
maior é aquela do que poderia ter, entretanto, feito.
São escolhas...de certo nunca pensadas no meu prazer.

O caos e o vazio se confundem, ambos me disputam
mas nenhum me traz a paz que necessito,
nem sacia a fome que trago e que sinto!

Eu vou contigo! Grito devolvido pelo eco
enquanto me atiro nesse negro abismo,
sem para-quedas, sem corda de segurança.
Dá-me só o que preciso!

Se não me devolves a alma
pelo menos, cuida dela.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Faltam-me as palavras

As gotas da chuva deixam-me inquieta, são como pedrinhas atiradas à minha janela incentivando-me a sair. Um encontro com a chuva é ser presente a uma assembleia de vozes, tão claramente audíveis, assim que as primeiras gotas tocam o meu rosto e se afundam num lago interior, fazendo-me transbordar.

Se olhassem para os meus olhos apenas obteriam um mero reflexo do imenso caudal que contenho. Uma maré viva que absorve o poder da tempestade e arrasta as frágeis barreiras que ergo num esforço para me conter.

O vento fustiga a minha janela aumentando o volume do apelo da chuva e a minha gargalhada - pura, como um rugido, uma disposição selvagem - agita-se nas entranhas e faz saber aos grilhões que se quisesse poderia ser solta.

Ainda que, atentamente, observassem o contorno do meu sorriso, jamais imaginariam a força da minha ira e nem a luta que travo para a impedir. Bastaria abrir os braços e deixar fluir a energia eólica que me atiraria para longe...confiando-me ao desconhecido. Sempre o evitei para que não fosse catalisador de tal propulsão.

Os toques ora suaves ora impacientes entoam por toda a casa, esforço-me para não os ouvir, mas sinto-me a emergir da escuridão. A água apenas alimenta o fogo grego que me consome e a mais tímida centelha inflama violentamente. Com a luz, a verdade não se pode renegar.

Faltam-me as palavras para descrever o que vejo, como explicar que a ilusão impostora perturba a paz e a realidade nunca teve um porto de abrigo?
Ainda assim lancei a âncora, mas esta não se fixa, é subtilmente arrastada como se a tivessem convidado a dançar e o seu par a fizesse rodopiar sem parar.

Se examinassem o meu coração veriam o que me encanta e palavras faltariam para que pudessem dizer:
_ Não é o inferno e nem é o paraíso. Tudo o que não sangra arde e tudo o que não arde sangra!
Renasce em si mesma, parece ser a ideia mais certa. Mas faltam-me as palavras perante a torrente de emoções que nos assaltam!

É a certeza da chama num poço sem luz, a agonia da espera, um prazer que seduz!
Pudessem vocês sentir...porque faltam-me as palavras para descrever algo assim.

sábado, 13 de novembro de 2010

Pequeno cosmo

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

Vinte anos passaram desde que aqui vim... Não dei pelo tempo passar...
Tinha prometido que na primeira oportunidade voltaria a este lugar. Não vim mais cedo por receio de acordar águas que se agitam à menor brisa.
Mas esta noite não poderia estar em mais lado nenhum... A mesma noite, vinte anos depois... Agora, beberei sozinha e brindarei à lua e às estrelas que permanecem no lugar, tantos anos depois.
O portão está aberto, o espaço acessível, o banco deserto.
Avanço cautelosa, coração em sobressalto por cada gargalhada que parece ouvir. As nossas vozes estão gravadas naquele lugar e as emoções estão ao rubro. Os sentidos recordam-se, pensei que tivessem esquecido.
Sorrio para os jovens clandestinos que revejo ali, naquela hora e naquela noite... Não sabem da sua sina, deixo-os assim. Tudo o que posso fazer é agradecer-lhes pelo momento em que existiram mais corajosos e mais verdadeiros do que alguma vez viriam a ser. Ali estavam eles representando para mim um diálogo que sabia de cor.
Está calor, refresco-me na espuma borbulhante da taça improvisada.
Absorta na espiral de um tempo perdido, perdida para o movimento presente. Alheia ao que me cerca, não dou pelo estranho chegar. Um vulto de caminhar apressado como se quisesse recuperar os minutos do seu atraso. Também ele vinha para aquele lugar. «Não é só nosso» - segredei como se os meus jovens conhecidos pudessem escutar...
Suspirei e ignorei o estranho... Nenhum sinal de alerta, nenhum perigo anunciado. O momento era de contemplação, a cena decorria perante os nossos olhos e os diálogos retomavam o seu curso.
Escuto o som da felicidade, rio-me também. É amor e eles não sabiam, não o queriam, querendo… Antagonismos próprios da idade.
Retomo a linha do diálogo em pensamentos que fluem alto, escapa-se o som da garganta, seguido de um murmúrio vindo da sombra. O estranho soprava-me ao ouvido as respostas às minhas falas. Era a voz de um homem que preenchia a voz do menino.
« Ele conhece as palavras.. Conheceu-te um dia.»- Bombeia o sangue carregando-me de eléctrica mensagem.
Os jovens estavam suspensos, olhando o Futuro. Eu via-me forçada a encarar o Presente, segui o som, olhei para trás.
«Ali está ele!» - suspiro da emoção luminosa em meus olhos.
A cena repetia-se, o Passado era Presente e amadurecido. As vozes embargadas pelo pó sufocante nas gargantas respondiam com palavras antigas.
Está calor, refresco-me na espuma borbulhante da taça improvisada. Ele sorriu. Os meus lábios hidratados pelo espumante, ofereciam uma visão de alívio. A hora era chegada e a vontade antiga preenchia o lugar, envolvendo-nos.
Um passo em frente e os nossos corpos assumem o seu devido lugar na história. A cada passo dado sentia que a juventude diluída era bebida pela memória. Agora era o que deixámos continuamente escapar.
Olhos nos olhos, vontades iguais, compreendidas e aceites.
«Ele ria de olhos estrelados, sorriso de lua» - estremeci, rodeando-o como um laço que enlaça bocas em abraços de desejo.
Mãos trémulas, carregadas de ambição carnal, coração pedinte pelo seu destino, lançaram ao vento a roupa que ele vestia. Tarde demais para a peça de roupa que trazia… O vestido era novo, mas a vontade antiga ditou os termos da sua rendição. Caía rasgado na urgência, assim como todos os medos que envolviam aquele momento.
No ar, rodopiando, entre abraços que comprimem os corpos e que os encaixam, palmo a palmo. No colo, ele a carregava para não mais a deixar fugir. O mesmo banco moldava-se para os receber.
Os cabelos negros de um cobriam-se com os cabelos negros do outro. Os dedos entrelaçados pulsavam ao ritmo de uma respiração ofegante. Corpos nus, iluminados por uma luz difusa que emanava de dentro para fora. Não era preciso olhar para lua e para as estrelas, tudo estava ali nos olhos que se perdiam no olhar do outro. O nosso pequeno cosmo, a nossa origem, o amor e vida, o inicio.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Travar a chama


Se eu pudesse dava-te caça, atirando a matar
e as lágrimas derramadas seriam de alívio.
O meu peito encher-se-ia de ar e respiraria
ardendo, por uma última vez, por algo sem sentido.

Se a paixão fosse varrida da face deste mundo
poderia ignorar o vulcão que ruge e te reclama,
Jamais sentiria a dor do brasão marcado na alma
e a minha pele deixaria de dizer que te ama.

Se eu pudesse dava-te caça, sufocava-te
esvaziando o meu peito num suspiro,
ainda que ame a dor que sinto
magoa-me mais, amar-te sem sentido!

Não tenho ilusões, não te elevei à condição de santo
Amo todos os teus defeitos!
Como se tivesse nascido para os adorar
Detalhes de ti que te tornam perfeito!

Ainda assim, pela sede que me provocas
pela loucura que me inquieta,
pelo desejo que me faz tremer
matar-te-ia se pudesse travar a chama!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sim, é magia!

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

Eu não quero ser Eva, a mulher que tenta e que corrompe a criação divina.
Querer eu não queria, isto é, se pudesse escolher.

Numa sociedade pretensamente livre temos o direito a optar. Sim, lá porque te estendo uma maçã não quer dizer que a mordas.
São escolhas! Na verdade são caminhos de um único sentido, sem retorno possível.

Qualquer tentativa de reencontro é como caminhar sob uma trilha de vidros, ainda que as lágrimas escorram e o sorriso não se apague!

Tudo é vermelho em mim!
O calor e a minha face!
A minha face e a paixão que suspira, enchendo o peito de ar e o teu olhar de desejo.

Eu não quero ser Eva, a mulher que condenou os Homens e que sofre as dores do mundo a cada nascimento. Por puro arrebatamento, deixa-me ser apenas a maçã que levas à boca e que devoras com vontade.

Sou como sou, sabendo que posso ser muito mais ainda!
É Tempo, ainda que se torne um tormento por não ter solução aparente.
Não desejo mais milagres porque estes de tão raros são escassos.
Prefiro uma realidade crua, ainda que me contente com um sorriso, ainda que ame a distância.

Mas por uma vez, deixa-me ser o açúcar que levas à boca, a polpa que saboreias, um sonho que não partilhas, mas que te faz feliz.

Sim, é magia!
O teu sorriso um encantamento e os teus olhos... os teus olhos fazem chorar os meus.

sábado, 25 de setembro de 2010

Rosa-dos-ventos

(contém hiperligação para a página de origem)


Na imensa escuridão e na hora mais silenciosa, ainda que os meus olhos permaneçam fechados, raios de luz despertam-me de um sono profundo e notas musicais vestem-me de vermelho e de cristal.


Confio e não temo a brisa que me incentiva a sair do meu nicho...


_Vem...por aqui, anda! - Diz num suspiro, como se há muito me esperasse.

Sigo a fragrância que ilumina o caminho, conduzindo-me por passagens cinzentas até uma janela que pensei não existir.


Lá fora há sorrisos e a melodia convida-me a subir para o parapeito daquela janela, com se de uma porta se tratasse. Subitamente, vejo-me rodeada por mil borboletas, pequenos arco-íris alados que me transportam como não fosse um fardo, apenas penas!


Sobrevoamos um jardim de águas tranquilas que me beijam saudosas!

Toda eu sou brilho, cor, luz... anseio saber para onde me levam, mas receio quebrar o encanto, talvez acordar.


Tudo o que vejo corre-me nas veias como se fosse parte daquele todo. Estarei eu a sonhar?

Sonho ou não, não me rendo, entrego-me!


O vermelho do meu vestido intensifica-se em harmonia com as minhas emoções... sou desejo!


O meu riso ecoa no paraíso e o eco devolve-me mil vozes que me saúdam.

O meu coração é um tambor na selva quando os meus pés tocam um chão forrado de pétalas. A seda acaricia-me e eu agradeço bailando em pontas, tentando preservá-las o mais possível.

Sigo o caminho serpenteado, esculpido pelas raízes criadoras de toda aquela imensa vida.

A cada rodopio sinto mais firmeza, executo uma coreografia de um bailado que os meus gestos parecem recordar.


_Eu sou uma rosa-dos-ventos! - Grito quase tão infantil como o foi um dia, ali naquele mesmo lugar. Um grito que retirou todo o ar, para que respirasse apenas as memórias que eu mesma plantei.


Instintivamente grito de novo em todas as direcções e enquanto a minha voz ecoa no espaço, o eco devolve-me, no silêncio que se fez, apenas uma voz que diz:

_ Tu és uma rosa-dos-ventos e eu sou o cardeal de todos os teus pontos! Se me procurares encontras-me e se me encontrares...

_ Encontro-me! - Completo, como se de uma lengalenga se tratasse, algo repetido ao longo de anos, mantido em segredo dentro de mim.

Ilumino-me como um cristal, a brisa envolve-me e dança comigo, feliz, mas pretendendo confortar-me e num sussurro solene diz:
_Chegou a hora que o galo anuncia aos homens como o nascer de um dia e às almas que é tempo de regressar!
_ Mas, eu sou uma rosa-dos-ventos que perdeu o cardeal dos seus pontos e este espera por mim - Respondo sem compreender!
_ Logo chegará a hora silenciosa que te trará de novo a este lugar e a cada noite se clarificam as memórias, conduzindo-vos rumo ao encontro. Porque o que um perdeu o outro procura. Ambos são partes de um todo, que se completa quando a busca conhece o seu fim.

Autor desconhecido 
(contém hiperligação para a página de origem)

De olhos postos no infinito que se oculta com o raiar do dia, rendo-me à força que me puxa de volta.

Feliz na ignorância, abençoado caminho!
Por hora, saber que existes basta-me! - murmúrio que ecoa no vazio, enquanto os meus olhos se abrem e a minha alma adormece.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Cabelos ao vento


Cabelos ao vento, aconchego quente, sorrisos que os meus lábios não conseguem conter.

Entrego-me por completo ao impulso que nos faz correr rumo ao desconhecido e não tenho medo. Quero sentir o pulsar do meu coração e o suor do teu corpo, enquanto te estimulo a ir o mais longe possível. Estamos unidos por uma mesma vontade, curiosamente sem destino, deliciosamente projectada no caminho incerto que surge à medida que avançamos.


O trajecto que desenhamos com o corpo, não é mais que uma noção vaga dos obstáculos ultrapassados, contornados a uma velocidade estonteante. Não sinto necessidade de ter certezas, não tenho medo de me perder, apenas entrego-me a este desejo que me faz apertar o corpo e impor o ritmo.


O terreno acidentado potencia a aventura, o céu desfaz-se num pranto e modera a temperatura dos corpos que aquecem acusando o esforço. Bebemos das suas lágrimas e recuperamos forças para, de novo, nos entregarmos a uma corrida urgente e sem uma razão aparente.

Aparente… Desejo intensamente chegar a um lugar a que possa chamar abrigo... Nunca pertenci a lugar algum, mas sempre pressenti a existência de um refúgio que potenciará quem sou. 

Na tua garupa e a galope tento a sorte, tento a vida, sinto-me viva! Livre de todos os açaimes e correntes com que me prenderam até que me negasse, até que tivesse medo de sentir, medo de ser quem sou e como sou.

Enquanto me lanço vertiginosamente para a frente, querendo mais velocidade - como se pudesse impedir mais um desencontro - confesso-me ao vento, primeiro subtilmente, como um murmúrio, depois a voz solta-se num grito suplicante:

_Por favor, ainda nesta vida, para que siga a pista na próxima...


Encontro-me no Nada. Não existe qualquer outro ruído para além do meu pensamento. A luz não me fere os olhos, pelo contrário, põe a descoberto o que antes eram apenas contornos.


Suspendo a marcha, mas sinto-me fluir, atraída pela energia que emana de uma nascente, espelho que me reflecte como se fosse uma mulher diferente.


Então, eu sei... É preciso procurar primeiro a felicidade que reside em nós, antes de a encontrarmos no Outro. Sinto na verdade que não existe refúgio mais seguro do que a minha própria fortaleza, primeira linha de defesa e força libertadora.

Não tenho medo de regressar, sinto os passos mais firmes, menos ansiosos. Solto os cabelos e deixo que o Vento nos conduza a casa. Liberto o sorriso que não quero conter e iluminada, aprecio o passeio.
Atrevam-se a viver. Hoje e sempre!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Palavra anónima


Por vezes, as palavras são como as folhas das árvores no Outono, despem-se e despem-nos. Mas ao contrário das folhas secas, que o vento nos oferece como se fossem tapetes e que as sentimos quebrar sob os nossos pés, as palavras não nos tornam mais visíveis e nem sensibilizam os outros quanto à nossa existência.

Ainda que tenhamos sido apenas uma pequena centelha numa avenida de plátanos, vestida de cobre e sangue, ainda que a nossa voz fosse apenas um nota numa harmoniosa melodia e o cheiro uma essência que embora doce se diluiu com as demais fragrâncias, ainda assim, permanecemos anónimos entre os demais.

O vento impele-nos a conviver, empurra-nos, como folhas, de encontro ao desencontro. 
Um pequeno ribeiro ou uma torrente de palavras são facilmente ignorados no seu no caminho.

Antes fossem como um barco de papel que na sua alegre viagem, a todos capta o olhar, fazendo-nos ansiar por uma travessia segura.
É apenas um barquinho de papel e se faz notar!

As palavras que nos desenham, sem linhas ou sombras, essas continuam ignoradas, a menos que por ilustrações se façam acompanhar.

Apela a imagem e a memória regista o slogan. É a palavra vendedora, vendida ou à venda!Eu não vendo e nem compro palavras. Gosto da palavra semeada que cresce carente de cuidados.

Naturalmente, é tão bela a palavra silvestre como a palavra polida, ambas brilham como pirilampos animando a noite. Mas ninguém pára para olhar para tão singela sinfonia e apenas alguns suspendem a marcha para colher a palavra campainha que salpica colorida os caminhos, nos quais nos cruzamos indiferentes, desconhecidos.
Então escolhi!
Optei pela palavra que suspira, por aquela que dança como as searas ao vento, ainda que não me vejas, ainda que não saibas quem sou ou onde estou!



Talvez um dia, olhes para mim e me vejas como quem lê um livro.
Talvez um dia, eu seja a palavra colhida, cuidada no teu jardim!
Por ora, sou palavra anónima.
Anonimamente livre!
Ainda que ilumine uma avenida, ainda que faça parte de uma sinfonia, ainda que deixe no ar uma fragrância doce que não te fará recordar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Lendariamente sem opção

A escuridão avança, tal nuvem negra que anuncia a tempestade shakespeariana que reside em mim.
"Ser ou não ser" interrogação pura, genuinamente intemporal. Uma hesitação que me mantém suspensa, ainda que o Tempo não espere e a Vida continue em frente, indiferentes ao meu dilema.
Sinto uma estranha e permanente inquietude, um barómetro que anuncia uma tempestade. Procuro-a no horizonte e iluminada como um farol, encanto-a e espero que se aproxime.
Não temo a intempérie, na verdade, amo a sua alma viajante e os lugares que sabe existir.
Tenho esperança na sua inclemência, nessa força capaz de me arrancar do meu coma vigil.
À primeira golfada de ar, grito! Peço-lhe que me leve a consciência, ainda que me roube o sopro da Vida, ainda que a Palavra fique, neste mundo, infinitamente por proferir.

_Protege-me!- Suplico.- Leva-me para um lugar sem noção de Tempo, em que tudo o que me espera é infinito e concreto. Leva-me para um lugar em que as palavras soltas pelas consciências estão em harmonia com as intenções, porque de contrário não existiriam.
Autor desconhecido
(contém hiperligação de origem)

Sonho com tal lugar, enquanto contemplo a tempestade que passa ao largo e as suas correntes chegam até mim suaves, como brisas que me beijam o rosto, carregando consigo apenas as minhas lágrimas.
Então, escrevo e engarrafo as palavras, na esperança que a corrente as leve para as mãos tempestuosas que não me carregam.
_Leva-as!- Grito-lhe, na esperança que sopre as minhas palavras para aquele tal lugar.
_Leva-as! Para que os teus ventos as depositem na boca certa, que proferindo-as sentirá o mesmo anseio, partilhando comigo esta inquietação que me impele a escrever.
Por ora, estou só, entre mundos cuja fronteira não é visível aos demais.
Protejo a Palavra, esperando que esta corresponda à devoção que lhe dedico.
Ama-me, peço-te! Ama-me, como sempre me amaste!
Suspiro, iluminando a noite com a minha presença.
Pálida e frágil luz num lugar tão inóspito... Mas, eu sou Eva, lendariamente sem opção.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Liberdade e Asa

Autor desconhecido (contém hiperligação de origem)

Olho-te nos olhos e sinto-me entorpecer, lânguidos bigodes sentem estremecer e miro, lasciva, todo o teu ser.
O teu nome é Liberdade, o meu é Asa e quero-te!
Mais do que querer, preciso!


Preciso dessa corrente que potencia a energia alada que me percorre. Flutuo rumo ao desconhecido, ninho que me espera desde que a esta terra desci.


Sou das Terras Altas, onde os espíritos não têm invólucros e as penas são apenas ferramentas e não máscaras que disfarçam a essência dos seres.
Liberta-te do sarcasmo que te aprisiona e sopra para que tenha paz. Sinto-te quente por entre as asas, elevando-me, empurrando-me para longe da multidão.
Isola-me e a sós somos Liberdade e Asa, seres simbióticos, numa relação ancestralmente concubina.

Sim, não concebo liberdade que não confira asas e nem asas que voem sem serem livres.
Eu, Asa, estou nas Terras Altas e tu Liberdade onde estás?
Espero-te para poder partir!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Um banho na tarde


Entro nessas águas salgadas, cálidas e espelhadas, sentindo na pele o doce arrepio do beijo solar.
Entrego-me a gestos que me fazem flutuar, como se me elevassem num abraço desejado, hipnotizada pelo contacto de olho no olho, palavras mudas que dizem tudo, sorrisos marotos que se sentem até de olhos fechados.


Rodopio, corpo beijado pela água e pelo sol, e sinto a saudade que escorre, emergindo de um rio subterrâneo de águas tumultuosas.
Desenho o gesto que segreda palavras. Um jorro de vocábulos inicia mais um monólogo sem que um som seja emitido. Apelo a um discurso que me amordace os sentidos, que ignore sentimentos, que sem fundamento existem porque existo.

A inquietude assalta-me, multiplicando a potência da ânsia, desorientando-me as defesas e um só pensamento se sobrepõe a todos os outros: partir!

Então mergulho nessas águas de temperatura uterina e regresso ao meu meio, ausente de gravidade, livre do ruído humano e da pressão que exerce sobre nós. Sustenho a respiração o mais que posso, perdurando o isolamento que limita a torrente de pensamentos e apenas um corre livre: sou ar e água!
Deixo-me ficar num longo banho que o final de tarde me presenteia com estrelas. O meu corpo ardendo como um sol, atrai a atenção da lua e ao luar me entrego, que o cansaço do gesto não mais me permite resistir.




sexta-feira, 23 de julho de 2010

Meu vício


A ti, vil vício tenho a dizer que me tentas
paladar que não esqueci,
calor que sinto entre os dedos
lábios que deixo entreabertos
gesto que levo à boca
na esperança de sentir.


A ti, vil chama que se transforma em cinza
veneno que desejo mais do que nunca,
os meus lábios procuram sedentos
a calma que o teu contacto me transmite.


A ti, vil destino que me assombra
cortina de fumo que envolve e seduz
abraço que tende a não surgir
solidão que aumenta ao diminuir a luz.


Meu vício sem cura possível
remédio que apenas conhece a fuga
uma distância que se quer maior
única forma de resistir segura!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Claramente

Imagino a vida por um fio, um fio farto em percalços,
uns frutos do destino, outros frutos da ilusão,
Uma venda que defrauda os sentidos
Claramente, a mente deriva sem orientação.

Alucina, perde-se em sonhos, pinta-os d’ouro
Encanta-se pelo falso reluzir, falsas intenções
Claramente, um bloqueio do raciocínio
Uma enxurrada mental de emoções.

Defraudada, à deriva, encantada e bloqueada
O olho da mente que não vê pelo órgão da vista, imagina
E na ilusão transforma porcos em pérolas
Respira a névoa dos sonhos, bebe das suas palavras.

Claramente, acredita e segue pelo nevoeiro de uma mente turva
Congela o tempo e a evolução do espírito
Existem momentos de vigília que nos despertam
E nesses engolimos os frutos do destino.

A soma das acções passadas com as presentes
Resultado que diluí o verniz envelhecido.
Claramente, distinguimos a linha que se repete
A tendência de nos concentrarmos numa linha segura 

Ainda que igualmente dura,
O resultado que já se conhece.
E quem não é real, não deve existir
Destino que se desfaz, caminho sem retorno
Factura, ainda que liquidada, marca!

Claramente, no reerguer da fortaleza rejeito o mergulho
Na chama que arderia eterna,
Na imensidão do teu olhar
No abismo do teu nada!
De ti apenas teria os sonhos despidos!
Claramente, cresci!


segunda-feira, 14 de junho de 2010

Cupido

As palavras provocam-nos, atiçam-nos com verbos repletos de intenções até conseguirem de nós o que pretendem: mais e mais palavras.

Curiosamente, ao interagir com uma amiga sobre o amor à primeira vista ou qualquer relação que tenha por base este cliché, a minha mente divagou em direcção ao Olimpo e não mais parei de pensar numa das suas criaturas amorosas, associada a uma imagem eternamente infantil: Cupido!


Escrevia eu à minha amiga que "(...)para além de considerar o miúdo amoroso e seja absolutamente contra o trabalho infantil, eu não consigo destituir o Cupido do seu cargo", mas sou forçada a reconhecer que, se pudesse, tentaria convencê-lo a arrumar o arco e as flechas e em último recurso, tirava-lhe a porcaria do brinquedo ou enviava o menino para um colégio eterno!


Alinhadas as asas, parti das Terras Altas rumo ao desconhecido reino dos Imortais, na esperança de falar com o mítico miúdo.

Não estou autorizada a falar-vos da sua localização e nem mesmo descrever as suas paisagens e cidades, só posso dizer-vos que a crise também lá chegou e com tantos impostos corri o risco de chegar com a Alma penhorada.
Todas as criaturas com que me cruzei, depois de lhes contar o que pretendia, riram a bom rir como se lhes tivesse contado a melhor piada do mundo, e solidárias acompanharam-me até à moradia celestial.
Como se fosse o acto mais natural do mundo bati à porta e perguntei:


_O Cupido está?

A porta abriu-se para um lindo jardim, repleto de corações esvoaçantes como se fossem aves.
Pensei tratar-se de um campo de treino, ou seja, que seria ali que o pequeno praticava a pontaria. Os corações ao serem atingidos, ora passavam a voar aos pares, ora deixavam-se ficar caídos, palpitantes, como se esperassem por algo.

Reparei que o pequeno me observava e ao centrar-me na sua figura notei como era diferente das gravuras da criança de caracóis loiros com asas branquinhas. Perguntou-me ao que vinha e eu deixei o meu coração falar:

_Não sei se já fui um coração deste teu jardim, mas eu não quero o Amor, assim como o Amor não me quer! Vim para te pedir para que guardes as tuas flechas e não mais me tentes com a mais leve esperança de o encontrar.

A criança riu-se e com uma voz pesada como o próprio Tempo, respondeu:

_Todos os que daqui partem não vão sozinhos e quando descem à Terra encontram-se, ainda que toldados pela matéria que lhes bloqueia a vista. É preciso saber ver com o coração, todos têm uma luz que os distingue.

_E o que acontece se perante a luz fecharmos os olhos? - Perguntei-lhe surpreendida pela ansiedade na minha voz.

_E quem viste... viu-te?

_Não, não verdadeiramente! Já te disse que o Amor não é para mim.

_Se não te viu e se não te encontrar, virá procurar-te aqui e daqui partirão de novo para uma nova viagem. Mas se ambos fecharam os olhos, algo neste mundo definhará até à morte.

Só então reparei no seu rosto contraído, nas asas de um cinza tumular e no número de corações tombados naquele jardim. Recordei como o Amor e a Esperança tornam qualquer lugar num paraíso, era impossível não acreditar naquela criança.

_Alimenta-te! - Disse-lhe com firmeza, enquanto desnudava o peito.

Sem olhar para trás, com ele deixei tudo o que tinha e tudo o que te fará procurar por mim ali!

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Apresentação e contacto


Uma relação especial

Desde que aprendi a escrever, notei que existia uma relação especial entre os pensamentos, o papel e caneta. Esta relação era de tal forma intensamente satisfatória, que os livros, de palavras escritas ou em branco, preencheram muitas horas destinadas a brincar. Quando exagerava no tempo dedicado à leitura e à escrita, era incentivada ir brincar para a rua. Ao regressar a casa, trazia comigo mais e mais palavras. 

Muitas dessas palavras eram aninhadas em pequenos cadernos escolares. Muitos desses cadernos foram tomados de mim e algumas dessas palavras foram expostas. Ficava muda quando as via de mão em mão, no caderno original ou na revista juvenil onde chegaram a ser publicadas. Dessas jovens palavras, não tenho recordação.

Naturalmente, o instinto protector levou a criar palavras refugiadas, ocultas num caderno-cofre. Durante muitos anos e espaçados no tempo existiram momentos de partilha, assim como quem abre uma janela e deixa espreitar. O mesmo instinto levou igualmente a que as fechasse e muito tempo decorreu comigo igualmente indisponível para elas.

As palavras cresceram até que as não pudesse conter. Inicialmente, jorraram palavras bravas, irónicas. Depois, o caudal tomou a forma de um rio de águas cálidas, convidativas. Construí uma ponte.


                                                          Broken Wings, o título, o blog

Quando era bem pequena, passava na tv uma novela com uma personagem feminina que me marcou pela sua intensidade.  Não me recordo da sua história, mas fixei a música que tocava sempre que entrava em cena. Anos depois consegui identificar a melodia e de facto existem músicas que são como ecos da mente: Broken Wings, do grupo Mr. Mister, do álbum  Welcome to the real world.

Portanto, welcome to my world. Um mundo de palavras que correm soltas, que descrevem lugares, pessoas ou sentimentos, como um sonho que se vive. Este blog é uma ponte que lanço entre nós, a mensagem é para ti. Vem, entra e fica.

Ema Moura,
emamourabrokenwings@gmail.com





Editado em 2014