sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Um banho na tarde


Entro nessas águas salgadas, cálidas e espelhadas, sentindo na pele o doce arrepio do beijo solar.
Entrego-me a gestos que me fazem flutuar, como se me elevassem num abraço desejado, hipnotizada pelo contacto de olho no olho, palavras mudas que dizem tudo, sorrisos marotos que se sentem até de olhos fechados.


Rodopio, corpo beijado pela água e pelo sol, e sinto a saudade que escorre, emergindo de um rio subterrâneo de águas tumultuosas.
Desenho o gesto que segreda palavras. Um jorro de vocábulos inicia mais um monólogo sem que um som seja emitido. Apelo a um discurso que me amordace os sentidos, que ignore sentimentos, que sem fundamento existem porque existo.

A inquietude assalta-me, multiplicando a potência da ânsia, desorientando-me as defesas e um só pensamento se sobrepõe a todos os outros: partir!

Então mergulho nessas águas de temperatura uterina e regresso ao meu meio, ausente de gravidade, livre do ruído humano e da pressão que exerce sobre nós. Sustenho a respiração o mais que posso, perdurando o isolamento que limita a torrente de pensamentos e apenas um corre livre: sou ar e água!
Deixo-me ficar num longo banho que o final de tarde me presenteia com estrelas. O meu corpo ardendo como um sol, atrai a atenção da lua e ao luar me entrego, que o cansaço do gesto não mais me permite resistir.




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