segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Reflexos da Alma

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Do meu quarto retirei o espelho que melhor conhece

todos os ângulos do meu Ser.

O que poderia denunciar os defeitos que domino

e as imperfeições que tento conter.


Do meu quarto retirei o espelho que contém

o meu reflexo gravado, como uma alma prisioneira

Uma essência mais do que um holograma

Um Dharma mais do que uma intenção verdadeira!


Retirei-o do meu quarto para que não espelhasse

acções que a mim retornarão num tempo sem fronteira

Não quero viver na esperança do que está para chegar

um futuro de equilíbrio, busca de uma vida inteira.


Eu sei que o equilíbrio contém o bem e o mal

Assim, como as nossas acções almejam a perfeição

Sentir e Ser como é devido não é um mito

Errar e Aprender também não o são!


Não receio o Karma, o retorno dos gestos incorrectos

Também os tive, é certo!

Mas de concreto, o amor tem sido o meu único guia

E por amor erro, pecados que a minha alma expia!


A Alma é secular, de Tempo infindável

A Vida é circular, um movimento de retorno

A Morte, tal como o Nascimento, são compassos

O Ser é uma melodia, o Verso o seu adorno


O espelho nem sempre reflecte o concreto

Por demasiadas vezes, espelha o desejar

Capta-nos a atenção, cativa-nos a Alma, encarcera a Vida

Nada é o que podemos esperar, se um reflexo amar!


Do meu quarto eu retirei um espelho

Afastei um reflexo sem corpo

Uma Alma triste que brilha

tendo o Amor como rosto.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Mastigo-te!

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)
Estranha felicidade ao sentir que é possível
diluir-te no meu dia-a-dia e tomar apenas uma dose de ti.
Sim, é verdade que ainda não acabei com o meu vício
Mas já não mudo as cores para as melhor poder digerir.

Mastigo-te! Parece-te estranho?
O maxilar já não prende
e o engolir já não custa tanto!

Consigo recordar sem tristeza ou amargura
algo que estalava de dentro para fora
Um peso que me embargava a voz
Uma dúvida que não ia embora

Sim, é verdade todo o bloqueio tem os seus motivos
Incertezas com as quais não podemos viver
São fios que deixamos enrolados nos tornozelos
São correntes que não se deixam ver.

Mastigo-te! Parece-te estranho?
O maxilar já não prende
e o engolir já não custa tanto!

O medo da desilusão, que foi um dia a razão,
foi substituído por desprezo pela nossa incompetência
Sim, é verdade existem tarefas do destino a realizar
Passos d’Alma que requerem alguma veemência.

Mastigo-te!
Parece-te estranho?
Sim, consigo suportar.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Livre

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)
Livre do teu encantamento
tu, cujo brilho no olhar
era espelho do meu sentimento

Livre do teu feitiço estou
tu, cuja alma impura
tanto me atormentou

Não te odeio porque não sei odiar
e se te odiasse apenas seria outra forma de amar
Eu não quero nada teu, nada que te tenha pertencido
tudo o que tocaste é um fruto apodrecido

Não, não guardo rancor
se guardasse seria guardar amor
No teu lugar colocarei uma árvore
majestosa e irresistível a qualquer ave

Nos céus estico as minhas asas
voo cruzado de olhos fechados
Mente que se abre, coração que recebe
desejos há muito negados

Livre do teu encantamento
tu, cujo brilho no olhar
era espelho do meu sentimento

Livre do teu feitiço estou
tu, cuja alma impura
tanto me atormentou

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O meu tear

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)


O meu corpo é um lugar que não é meu e eu perdi-me nas horas em que não existi. O resultado é a vida que escolhi e o vazio que anseia por me abraçar.
Nada tenho de meu e nada foi o que construí para mim. Apenas assinei um contrato, confirmando a minha desistência e entregando como dote todos os meus sonhos.
Neste tear da minha vida foram os sonhos os bens preciosos que criei, vesti-os de seda e de cetim, lancei-os sobre mim.
A minha pele aveludada da cor do marfim é o resultado tecido e agora que sinto como se sonhasse, sinto a fome crescente de um toque que não chega.
Rasgo a pele entre espinhos, caminho descalça sobre cardos, mas nos lábios carrego um sorriso e no sorriso espelho o corpo que não profanei.
Não amei, mas deixei que me amassem. Fiz o bem, é o que importa.
A alma, contudo, já não se contenta e por entre os fios que teci, reclama liberdade. Primeiro num murmúrio, depois num gemido e agora os seus gritos impedem o meu dormir e se não durmo perco a viagem pelos vales consagrados por verdadeiros heróis.
Já não ignoro a mensagem, contida em cada lágrima do meu sangue, apenas faço o luto que é devido a todas as horas que matei. Neste meu recolher sofro e no meu sofrer liberto-me, rasgando o enorme casulo em que me abriguei.
Em breve as asas que teci estarão prontas e chegada a hora anunciada partirei, de sorriso nos lábios, voando sobre cardos, de pele aveludada e de cor de marfim.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Uma lágrima

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)
Uma lágrima contem mil palavras, muitas das quais sufocadas para que permaneçam caladas. Engolidas a seco, o nó não se desfaz e a mensagem permanece selada.
Numa lágrima um oceano de sentimentos está contido. Palavras que a maré deposita para depois as reclamar. Sedimentos da memória depositados no infinito.
Uma única lágrima de uma alma cega deixa à deriva o náufrago, priva-o da possibilidade de salvação. O sal acelera a desidratação e a mente navega sem bússola.
Numa única lágrima a dor conhece a fuga, mas não alivio.
Sofrer é preciso…é preciso.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Contempla-me

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

Brinca a língua em meu redor, achas para uma fogueira de chamas já altas, ilumina o fogo a escuridão que o denuncia.
Olha como se abrem as entranhas, como se revelam perante ti.

São tolices que escrevo quando a mente está turva e a verdade é crua. O fogo pode ser um artifício que apenas esconde a maldade.
A indiferença patenteia uma tristeza nunca antes sentida, o sonho que sangra com a força de todas as lágrimas que derramei.
Levei uma vida chorada, uma enxurrada criei e com a minha dor levei outras vidas arrastadas.

Brinca a língua em meu redor, como se pudesse expandir e eliminar todos os obstáculos à sua passagem. Na dança, um serpentear que provoca o transe, faz saltar o sapato e largar o véu.
Contempla-me para além do corpo, que não te impressione o prazer.

Se te fizer sentir que não seja como um sonho, vê além de ti...
Não te procuro, encontra-me!
Estou aqui.

Sim, amor espero por ti

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)



Arde a madeira na fogueira e a pele se estende em torno do braseiro, é o meu regaço que te faz sentir em casa, sou eu o teu mundo inteiro.
No gesto a paixão ardente que me despe solenemente. Na boca a palavra que me seduz e nos teus braços o arrebatamento que me transporta.

Na muralha esperei ver-te chegar do campo de batalha, coberto de sangue e nos olhos o terror de me deixar indefesa.
Sim, espero por ti amor.
Se dispo o kimono, deixo alva a lua no meu corpo e o teu olhar cintilante vê em mim o esplendor.
Sim amor, espero-te!

Serei nos teus sonhos sempre jovem. O nosso jogo um bailado. O amor esse é trágico como o destino que a todos guarda.
Sim amor, espero por ti ainda que sabendo que definho e quando chegar a hora serei a última estrela a despedir-se do dia.
Amanhecerei eternamente para que no campo de batalha te guarde. Combate antes do raiar do dia, porque é durante a noite que tenho mais força.

No crepúsculo dos teus sonhos entrarei na tua tenda e de olhos no teu rosto, perdida no perfume do teu cabelo, o meu corpo será um arco e a tua flecha o meu alvo perfeito.
Brande aos céus pela vitória que te anuncio, derrama o sangue que lavo com as minhas lágrimas.
O meu nome é aquele proferirás, ontem Manuela, hoje Beatriz.
Serei todas elas e nenhuma te fará mais feliz.

Descanso em paz, porque um dia chegarás, ainda que nesta vida já não tenhas tempo.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Quando cai o véu

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)
Se de noite chorares pelo sol, não verás as estrelas
Tagore, Rabindranath

Recordo os dedos pequeninos colados ao vidro da janela desenhando os contornos de um céu cintilante, como se esticasse as asas e pudesse seguir o feixe de luz de uma lua cheia, numa noite sem nuvens.
A noite é mágica e com ela, eu também o serei - assim pensei outrora!
A noite permaneceu mágica até ao momento em que o sol me ofuscou e o meu corpo revestiu-se de véus, cuja leveza permitia receber tanto calor.
Perdi a Lua! No seu lugar surgiu um lago de gelo, cenário de um bailado solitário.
Perdi as Estrelas! No silêncio da noite deixei de elevar o olhar, serpenteei pelo silêncio das recordações, atiçando as brasas, mantendo a chama brilhante.
Perdi-me em torno dessa fogueira! As asas transformaram-se num sopro e os véus fluíram presos a um corpo ondulante.

Peregrina de mim mesma, templo oculto e sem culto. A realidade é um complexo sistema de casulos.
O Tempo continuou sem incómodo, tem um ciclo a cumprir. A cada ciclo completo um véu se desprende e a ilusão é retalhada pelas traças que eclodem. Sim, nem todos os casulos albergam a larva que dá lugar à borboleta.

Seduzida por um sol peregrinei na noite de olhos postos no rubor das faces, na contracção das coxas, nos lábios mordidos por pedidos suspensos. A noite tornou-se o espaço do suspiro solitário, do caminhar descalço sem rumo e sem sorte.

Quis um dia a Lua resgatar-me, reclamando a minha amante energia. Ao abrigo da noite e à luz da sua magia, os véus desprenderam-se a cada passo dado em redor do meu inferno. Encontrei a face da verdade que os meus sentidos ofuscaram.

O meu sol não é mais que um rochedo negro. Uma falsa tábua de salvação, uma frágil muleta que a ilusão pintou e reforçou no devir do Tempo.
O gesto que me elevou nos ares perde a força a cada verdade revelada. A mesma verdade que no passado me fez recuar perante a fogueira. Não tinha então pecados para queimar!

Cai o último véu. Nenhum no covil de Narciso.
O meu falso sol não é mais que a negação do Amor, um logro de Loki, um sonho de Afrodite.
O rubor invade-me as faces, culpa ardente.
Os meus dedos percorrem o terreno fértil, esperança suplicante.

Dispo um único véu para um banho de lua sob o olhar das estrelas.
Liberto-me!


sábado, 1 de janeiro de 2011

Asserção

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)


Tudo a postos, tudo no seu devido lugar.
Não há palavras soltas, pensamentos conflituosos.
A mente esvazia como a maré, as palavras varrem-se para um canto, os gestos retiram-se defraudados, as intenções são trancadas num lugar onde a luz não chega. Nada se perde sem intenção, nada é deixado no caminho sem que seja revisto.
Sim, revejo as incertezas antes de as dissolver e espremer o que têm de certo.

Com o Tempo tudo se transforma, alguém o pensou e disse!
Ainda que tivesse congelado, o Tempo deixou de estar suspenso, retoma agora o compasso marcado pelas escolhas e pelas consequências.
Sim, ato cada palavra e cada gesto à respectiva consequência, andam sempre de mãos dadas e apreciam a companhia.

Enquanto cresço, penso e enquanto penso e cresço, afasto-me e percorro o meu próprio caminho. Parece fácil de tão natural, mas na verdade não o é!
A natureza é complexa e a realidade é dúbia, bifurcada. Escolhas que derivam de escolhas, consequências que se encadeiam, conexões sem fim à vista, apenas se conhece o acto primordial.

Evito olhar!
Não quero mais olhar para trás e procurar distinguir cada fio que me liga.
É passado, tempo excedido e irrecuperável.
Perda de tempo de um Tempo que quero poupar, investir e multiplicar, afim de o melhor poder dividir.

Não me destaco da multidão uniforme e compacta. Prefiro, agora que cresci, camuflar e absorver, ser apenas um rosto arrastado pela corrente, à deriva como os demais.

Sim, deixa-te fluir nesse curso de água que do qual não sou afluente ou foz. Ainda que um serpentear de dedos te desenhem no ar, não existe perigo, apenas castigo por um tempo verbal mal conjugado, do qual se perdeu o gesto e a voz.

De olhos fechados e de rosto contraído, sigo no caminho que decorei, com obstáculos equivalentes às consequências do gesto.
O gesto é mecânico e a vontade é oca.

Não há palavras soltas, pensamentos conflituosos.
Tudo a postos, tudo no seu devido lugar.