sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Esculpidos na pedra

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

Trote selvagem, riso aberto até às pontas do cabelo esvoaçante.
Monta como vive, ignora o perigo.
«Só assim sei que vivo!» - Costuma dizer.
Não sem aviso, parte, uma vez mais, sozinha rumo à trilha desconhecida.
Tenta um caminho diferente por mera precaução. O destino está cravado no coração e a pele sabe o caminho de cor.
Procura água e vai ao seu encontro.
Não é uma água qualquer... A fonte é subterrânea, a corrente é subtil. É um lago com vida, sempre fresco e limpo. Aqui e ali pequenos animais salpicam a superfície.
O lugar está escondido dos demais e nunca lá se viu viva alma. [Apenas a sua se despe e mergulha lá o corpo.]
Nada nua, em comunhão, sem perturbar o ambiente. O gesto não cai no vazio. A sincronia do movimento é objectiva na trajectória. No meio do lago existe uma pedra com o seu corpo desenhado, esculpida nas horas que ali permaneceu deitada.
«Que se esconda o lugar para que me possa revelar.» - Pensamento que descobre quando o sol se vira para a mimar. Dá-lhe o corpo a dourar e adormece tranquila.
Trote selvagem, riso aberto até às pontas de um cabelo rebelde.
Monta como vive, ignora o perigo.
«Só assim sei que vivo!» - Costuma dizer.
Não sem aviso, parte, uma vez mais, sozinho e sem rumo definido.
Tenta um caminho diferente por mera excitação. Acredita na voz que lhe chega do coração e que pulsa sob a pele:
«Procura água e vai ao seu encontro. Não é uma água qualquer...» - Pensamento que descobre sempre que aperta as rédeas na mão.
A sincronia do movimento é objectiva na trajectória, o gesto não cai no vazio. Procura sinais de água e segue-os em seu caminho.
Num lugar remoto, erguem-se majestosos canaviais, muito faladores entre si. Escondem o burburinho do rio que passa ali. Fingindo distracção engana os guardas de cana, descobre a corrente e segue-a.
Entre os rochedos, o lago abre-se imenso e cristalino. Sem perturbar o ambiente, observa os animais que aqui e ali chapinham na água. No meio, uma pedra embala e ela dorme...
Despe a alma e mergulha o corpo. Nada de olhar ancorado na alma nua que desperta serena.
Ela é sua...
Ele é dela...
Reza a história que numa pedra, no meio de um lago, se podem ver os amantes imortalizados… Talvez tenham sido naturalmente esculpidos nas horas que ali permaneceram deitados.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Espero


Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

Porta aberta para o jardim
Pomar de pessegueiros
Fitas de seda perdidas de riso
Ela espera
Ele vem

Cordas de cetim e penas de avestruz
Máscaras de veludo e porcelana
Sonho de Eros
Ela espera
Ele vem

Cama aberta e convidativa
Lençóis com aroma de pétalas de jasmim
Expectativa húmida
Ela espera
Ele vem

Túnica aberta
Pele trigueira e perfumada
Andar felino
Ela espera
Ele vem

Lábios entreabertos
Respiração em ai
Dedos cravados como trepadeiras de veludo negro
O travesseiro treme e geme na antecipação
Ela espera
Ele vem...
Vem...

Hoje, o céu é meu...

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

Esvazio a mente, deixo entrar a música e o corpo ondula desenhando a corrente de uma brisa de verão.
A cada batida do pé esqueço as cores artificiais e sinto a terra, o seu cheiro e as suas múltiplas combinações coloridas. Os braços esboçam os contornos das asas, as mãos hipnotizam com o movimento elegante das serpentes. Olhos semi-cerrados, sorriso prazeroso, não penso, danço.
A pista não é mais um círculo fechado repleto de gente. Os sons tribais que a enchem potenciam o transe a que me entrego. Não obstante, a escuridão não é completa.

Sinto-o a chegar e a descarga de adrenalina é inevitável. Senti-o como se uma pedra caísse no charco, criando o movimento, arrancando-me do abandono. Existem pessoas que afectam o ambiente, outras que captam essas sensíveis mudanças. Em alerta percorri o espaço. Esforçando-me na contra-corrente, procurei atingir a fonte. Na penumbra, ele sorria e os seus olhos atraíram os meus.

Por breves minutos voltei a ser uma chávena cheia. Muros ergui na breve tentativa de bloquear a luz e ofuscar a presença. Na verdade criava paredes com janelas que me permitiriam vê-lo sob a falsa ideia de protecção.

Dois passos arrastei na direcção no bar. Pedi uma gaiola para os meus impulsos, algo que travasse as pernas e que me colasse ao chão. Na verdade, o liquido que levei à boca desfez o açaime.

A Razão organizava, uma vez mais, a lista dos prós e contras. Ao recordar as minhas fugas e como o corpo lhe doera em todas as fantasias boicotadas, abandonou a tarefa a meio... Sem trela a vontade rugiu tomando posse, soltando vocábulos de puro desejo, eclipsando qualquer vislumbre de um Amanhã turbulento.

_ Vem! – Afirmo convicta da única solução para a minha fome.

Imaginem-vos dependentes de um alimento, raro, capaz de saciar a fome e a sede. Comparem-no a um oásis após uma penosa caminhada no deserto. Sombra, alimento e água ao alcance de um abraço… A fome ciente da privação é agreste, arrepia e crispa.

Sem esperar qualquer resposta fui para o exterior. A brisa marinha impregnada de música agita suavemente a superfície salgada. Instintivamente segui rumo à praia, deixando o meu rasto na areia prateada e silenciosa.
Os seus passos não tardaram a imprimir as vibrações que me assustam tanto quanto as desejo. Em resposta, a febre apodera-se, os olhos semicerram até sentir o veludo quente, a boca húmida, a língua sorridente. Abraço-o como se pudesse conter o Tempo, beijo-o como se pudesse criar um Presente Infinito.

Perfeitamente encaixada, assusto-me perante o sentimento de plenitude. Se mergulhar, se me deixar ir… Ao conhecer o Céu não terei eu uma maior noção do deserto em que vivo?

Hesito e hesitando preparo-me para uma nova fuga.
Como se adivinhasse, senti a pressão dos seus braços obrigando-me a fitá-lo. Sorriu e eu mergulhei no abismo dos seus olhos, de encontro à pele que nunca senti… Estremeci...

As mãos ondularam envolvendo-lhe o corpo na dança das serpentes, as línguas marcavam o ritmo. Parei para que me olhasse, enquanto alimentava as chamas do desejo. Ele arqueava e estremecia. Fechava os olhos e gemia. Sorria e os seus olhos eram o tecto da noite e todas as estrelas que esperava ver…

Quando a última peça de roupa planou até ao areal entrámos no mar prateado. As longas carícias prometiam um alívio em êxtase, os beijos confirmavam-no. Na união dos corpos, a carícia lunar resplandecia, sob a sua luz todos os sentidos eram igualmente amados.

Agora, era eu que fechava os olhos… Cerrava-os na incapacidade de conter as emoções que escapavam em suspiros alados. Harmonia e perturbação entrelaçavam-se no epicentro do prazer, criando ondas circulares de quente e frio. Incorporámos o movimento crescente da maré e sob o efeito da lua, na rebentação das ondas, entregámo-nos ao prazer que se sobrepõe a todas as coisas… Doce esquecimento…

Flutuo...
Desperto no céu e beijo-lhe a boca.

Amanhã não sei como será, mas hoje… Hoje, o céu é meu.