terça-feira, 25 de novembro de 2014

Uma vez na rua


Leva-me para a rua,
Mesmo que sob protesto,
E ainda que chova,
Deixa-nos ficar sem abrigo.

Expostos e em abraço forçado,
Respiremos juntos, somente,
Até que o peito acerte o compasso
E o silêncio tome conta dos lábios.

Palavra alguma deverá interpor-se
Entre os meus olhos e os teus,
E se me esquivar, como faço sempre,
Está nas tuas mãos, deter-me.

Não te zangues, nem desesperes
Tu sabes que serei como uma enguia,
A escapar-se por entre dedos,
Mas com igual desejo de ficar.

É uma luta shakespeariana
Entre o querer e o pensar.
É um medo de tocar e estragar,
Como faço sempre…

Pudesse eu evitar ser tão escorregadia
Pudesses tu evitar ser assim tão meu desejo
Voltasse eu a sonhar o nosso sonho
Serias, mesmo, só meu?

Basta que me faças sorrir, uma vez mais…
Um sorriso, que irrompe involuntário
Tem um efeito endiabrado,
É a ruína de qualquer protesto!

Direi: - Detesto-te!
Mas não arredarei pé,
Deixarei que tomes o meu pulso,
me sintas com o coração na boca…

É um plano arriscado,
mas uma vez na rua,
Todas as escolhas são caminhos,
E todos os caminhos convergem para ti!


Imagem: Autor desconhecido