sábado, 9 de junho de 2012

Proposta


_Pense na minha proposta - disse ela batendo com o cartão na mesa sem desviar dos olhos dele - poderá contactar-me nesse endereço, telefone primeiro.

Enquanto ela se afastou, ele não se moveu, Parecia pregado ao chão, concentrado no pequeno papel deixado sobre a mesa. Por um milésimo de segundo, tudo desaparecera. A venda da propriedade, as dívidas, as obrigações familiares, todas as preocupações. 


A pancada seca na madeira despertara-o do transe. Nesse feliz vazio, onde se encontrara, apenas tomara consciência da presença dela, não ouvira qualquer proposta. 

Sacudiu a cabeça, deslizou os dedos pelos cabelos, soltou uma gargalhada tensa como se o libertasse de algo. Ainda assim sentia-se amarrado e os seus dedos seguiam hipnotizados os aromas que emanavam da mesa e num impulso levou o pequeno papel ao nariz... Rosa, jasmim, violeta, flor de laranjeira, gardénia, madeira de cedro, sândalo e âmbar...


No bolso da camisa, junto ao peito, ardia e seduzia-o a ideia de voltar a vê-la. Recordou os olhos expressivos, a tensão palpável, o movimento dos lábios. A verdade batia-lhe no corpo como ondas de calor. Não havia proposta alguma, apenas um «estou aqui, segue-me, vem».