terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Pintura introspectiva


Tantas questões de resposta simples,
tantas a que não respondo.
O que querem diga?
Apenas pinto o que vejo,
ainda que mais ninguém o faça...

Fecho os olhos, remeto-os ao interior
A dor está presente e é imensa.
Sacode as copas das árvores,
cria remoinhos de folhas,
espalha o caos pelo chão.

Parece-me.. Divertida?
Vejo-a nas colinas,
rodopiando até cair.
Parece sorrir...
Juro-vos que ri para mim!

Continuo o meu caminho,
opto por seguir o aroma das cores,
mais forte aqui do que no exterior.
O que vos posso dizer?
Também a mim me surpreende
este verde imenso, repleto de flores.

Na linha do horizonte, um telhado camuflado
confunde-se com o pôr-do-sol.
É o espelho de água que o denuncia,
vi o seu reflexo.
Parece-me caminhada de um dia,
demorou apenas um instante de pensamento.

A casa está fechada, vazia, desabitada
Incomoda a paz que se sente.
Penso nos que se remetem ao silêncio,
encontrarão eles tal sossego?

Tantas questões de resposta aparentemente simples,
Tantas a que não respondo...
O que querem diga?
Se é a paz que vejo neste isolamento,
como a antítese perfeita do que vivo.
Apenas pinto o que vejo,
ainda que mais ninguém o faça...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Silencia o teu amor


Silencia o teu amor,
Hoje, não é amor que quero sentir...
Despe-te desses sentimentos que te fazem ter cuidado.
Não quero que me tenhas num pedestal...
Não eu que sou feita de carne.
Não eu que sou feita de amor!
Silencia esse teu cuidado,
Ruge e toma posse
É um salto do diabo,
Saltar assim tão livremente...


Fotografia de Fábio Martins (contém hiperligação para a página do Autor)


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Tudo o que sempre quis...


À deriva,
como pó cósmico num imenso universo,
é nas estrelas que me procuro,
é nas estrelas que encontro...
O teu rosto, por entre todos os que se cruzam comigo.
Nada de especial - diria - se não fosses tudo o que desejo
Ainda bem - penso - que o meu desejo é mudo...
Amordaçada no prazer,
o teu nome arde-me nos lábios.
Sussurro, por entre dedos mordiscados,
tudo o que sempre quis!
O meu corpo em delírio
alma minha que perco,
sem medo,
sem castigo...



terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Monólogo da memória

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)


Fecha os olhos. Esquece que viste os véus que libertei no vento [transparências do Ser que substituí por metros de tecido enrugado, áspero como o sol pode ser]. Esta pele que não sinto como minha, não passa de uma película que me esconde, enquanto desapareço por entre as dunas do esquecimento.

Não dei pelo tempo passar. Não notei quando a trilha se tornou agreste. Não até ser tarde. Não até ver diluídos - num mar morto, denso e crescente - todos os sonhos que sonhei. Cresce um mar onde eu definho.

Fecha os olhos sente a brisa quente. Concentra-te no movimento das ondas de areia. É ilusório, bem sei. É o calor ondulante. É o reflexo cintilante dos milhões de grãos que o vento não pára de empurrar para dentro de mim. É infértil, mas sinto-o crescer. Cresce o deserto onde eu definho.

Fecha os olhos. Concentra-te no som da chuva, no cheiro da terra molhada. Esquece que tenho sede, que estou faminta. Imagina-me e perde-te nos detalhes. Pés feridos, unhas gastas, mãos ensanguentadas, com um sorriso não se afunda, nem se soterra. É um sorriso esculpido no tronco da esperança. Desenhei-lhe a forma de uma ponte, de uma jangada, de uma tenda. É um sorrir do céu, um singelo oásis, neste meu deserto rodeado de mar, que cresce enquanto definho.

Fecha olhos, esquece-me agora…

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Salto de fé

Salto com força para os espelhos de água que a chuva estende pelo chão. Destruo a imagem que neles se reflecte. Não quero saber quem é ou quem poderia ser, simplesmente não a quero ver!
Salto com a agilidade de um gato empoleirado nos galhos secos de uma árvore e no gesto descarrego ancestrais coreografias, executadas por diferentes crianças em diferentes épocas.

É a dor que me move, espelhando no rosto uma alegria, como se o exterior reflectisse o negativo. Não sei porque tal acontece. Como não sei porque o meu pensamento se assemelha a uma vida mais intensa que esta vida que vivo. Estarei eu sempre a dormir?

Agito os pensamentos, como se os pudesse afastar do torpor que me toma e me resgata para essa vida que sonho. Em resposta à breve ausência, salto para os charcos de água gelada - como se fosse pequena de novo - e o som da cidade, dentro de mim, é abafado pelo trovão que me sai dos pés. Por momentos, derivo no esquecimento e no nada sentir...

Salto porque me liberto do que respiro e do que me inspira. No gesto, voam livres milhares de pequenos projecteis de água, que disparam em todas as direcções, caindo como sementes no asfalto. Não produzem vida, apenas uma frágil esperança de que algo bom aconteça. Algo como uma flor tenaz que rompe a estrada moribunda.

O meu coração adolescente, o meu salto infantil, a minha fé que resiste...
Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011