sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Salto de fé

Salto com força para os espelhos de água que a chuva estende pelo chão. Destruo a imagem que neles se reflecte. Não quero saber quem é ou quem poderia ser, simplesmente não a quero ver!
Salto com a agilidade de um gato empoleirado nos galhos secos de uma árvore e no gesto descarrego ancestrais coreografias, executadas por diferentes crianças em diferentes épocas.

É a dor que me move, espelhando no rosto uma alegria, como se o exterior reflectisse o negativo. Não sei porque tal acontece. Como não sei porque o meu pensamento se assemelha a uma vida mais intensa que esta vida que vivo. Estarei eu sempre a dormir?

Agito os pensamentos, como se os pudesse afastar do torpor que me toma e me resgata para essa vida que sonho. Em resposta à breve ausência, salto para os charcos de água gelada - como se fosse pequena de novo - e o som da cidade, dentro de mim, é abafado pelo trovão que me sai dos pés. Por momentos, derivo no esquecimento e no nada sentir...

Salto porque me liberto do que respiro e do que me inspira. No gesto, voam livres milhares de pequenos projecteis de água, que disparam em todas as direcções, caindo como sementes no asfalto. Não produzem vida, apenas uma frágil esperança de que algo bom aconteça. Algo como uma flor tenaz que rompe a estrada moribunda.

O meu coração adolescente, o meu salto infantil, a minha fé que resiste...
Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

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