quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Lendariamente sem opção

A escuridão avança, tal nuvem negra que anuncia a tempestade shakespeariana que reside em mim.
"Ser ou não ser" interrogação pura, genuinamente intemporal. Uma hesitação que me mantém suspensa, ainda que o Tempo não espere e a Vida continue em frente, indiferentes ao meu dilema.
Sinto uma estranha e permanente inquietude, um barómetro que anuncia uma tempestade. Procuro-a no horizonte e iluminada como um farol, encanto-a e espero que se aproxime.
Não temo a intempérie, na verdade, amo a sua alma viajante e os lugares que sabe existir.
Tenho esperança na sua inclemência, nessa força capaz de me arrancar do meu coma vigil.
À primeira golfada de ar, grito! Peço-lhe que me leve a consciência, ainda que me roube o sopro da Vida, ainda que a Palavra fique, neste mundo, infinitamente por proferir.

_Protege-me!- Suplico.- Leva-me para um lugar sem noção de Tempo, em que tudo o que me espera é infinito e concreto. Leva-me para um lugar em que as palavras soltas pelas consciências estão em harmonia com as intenções, porque de contrário não existiriam.
Autor desconhecido
(contém hiperligação de origem)

Sonho com tal lugar, enquanto contemplo a tempestade que passa ao largo e as suas correntes chegam até mim suaves, como brisas que me beijam o rosto, carregando consigo apenas as minhas lágrimas.
Então, escrevo e engarrafo as palavras, na esperança que a corrente as leve para as mãos tempestuosas que não me carregam.
_Leva-as!- Grito-lhe, na esperança que sopre as minhas palavras para aquele tal lugar.
_Leva-as! Para que os teus ventos as depositem na boca certa, que proferindo-as sentirá o mesmo anseio, partilhando comigo esta inquietação que me impele a escrever.
Por ora, estou só, entre mundos cuja fronteira não é visível aos demais.
Protejo a Palavra, esperando que esta corresponda à devoção que lhe dedico.
Ama-me, peço-te! Ama-me, como sempre me amaste!
Suspiro, iluminando a noite com a minha presença.
Pálida e frágil luz num lugar tão inóspito... Mas, eu sou Eva, lendariamente sem opção.

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