quarta-feira, 6 de abril de 2011

Uma vontade que não cansa...


O morder do lábio inferior é mais ruidoso que os passos que dou, assim como o movimento dos lábios que deixa escapar desejos e sorri...
Observo o teu dormir, ainda transpirado e suspirante.
Eu estou desperta, atenta aos minutos de um relógio pouco apressado.
Interrogo-me de quanto tempo necessitarás para esse sono descansado. Quero-te assim ainda molhado ou deixo-te secar?
Giro na ponta do pé e flutuo até à parede mais próxima. Encosto-me e sinto-a fria na minha pele quente... Não tempera, não acalma e nem abranda, apenas refresca.
O movimentos dos lábios que sorri é mais ruidoso que o toque no tecido que me veste a pele. Um tecido diferente do que aquele que repousa agora no chão do quarto, lugar para onde foi atirado e esquecido... Já teve o seu minuto de destaque, já mereceu a tua atenção.
Deixei-te dormir e escapei do teu abraço.
Água bebi pelo corpo todo, novas fragrâncias esfreguei na pele.
A gaveta abri com todo cuidado e os dedos esvoaçaram carinhosamente por entre os tecidos ali guardados. Em bicos de pé, de lábios ruidosos procurei uma textura compatível com o aroma e com a vontade.
A vontade que não pára, apenas abranda para depois acelerar no plano que concebe e nos gestos que o tornam claro.
Agora estou aqui nesta parede nua que me recebe e neste calor que não cessa.
Um movimento teu e o sorriso dilata-se, observando a mão que procura o calor que deixei na almofada nua.
Outro movimento teu indica que a tua pausa está à procura de mim.
O movimentos dos meus lábios são mais ruidosos de que as mãos que imprimem ao tecido a vontade que aumenta e que tem um plano desenhado.
Quero-te acordado e de pé!
Sorriso rasgado, inundado por cada movimento teu.
A ponta de pé gira e mostra-te toda a pele que o tecido não cobre.
Encostada à mesma parede arregaço o tecido muito lentamente, parando por instantes a cada sorriso teu.
Estás desperto e alerta lês o plano que desenhei no meu olhar.
Nos teus olhos antevejo as surpresas que me reservas, os gestos que espero quando a investida não tem freio e nem qualquer desenho.
Aproximas-te como um íman e as tuas mãos entram no jogo do tecido que dança de forma ascendente. Vejo-me enroscada no teu corpo, subindo a parede de costas, apreciando a sua nudez e a sua diferente temperatura.
Logo sofrerá do mesmo calor...- Último pensamento que dispo perante a hora do não pensar.
Concentro-me no som que te escapa da boca, sinto o tecido a rasgar.
Esqueço tudo o resto, entrego-me a uma vontade que não cansa...

Fotografia de autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)

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