quinta-feira, 23 de abril de 2015

Encontro com o destino, numa rua que se desce...

Ele sorriu, enigmático... Desafiou o tempo e desceu a rua.
Apostava num reencontro que não tinha lugar ou hora marcada e ganhou... Decorridos poucos metros,  a encontrou e em curta distância, seguiu-a de longe. 

A marcar o passo, um caminhar paciente... As possibilidades, ainda que remotas, eram provocadoras... E de tal forma o provocavam que, volta e meia, tropeçava absorto em pensamentos.
[O destino o favorecia] - pensou, ainda que ela não o visse, como tantas outras vezes não o viu...

Ela sorriu, misteriosa... Desafiou o tempo e desceu à rua.
Caminhava ao acaso, sem lugar definido e sem hora a marcar o passo. Algo a impelia a ir... Sair, sem razão... Não apostava (tem aversão a apostas)... No entanto, a estrada é feita de reencontros e esta ideia de tal forma a provocava que, volta e meia, tropeçava absorta em pensamentos.
[O destino... Tu e eu...] - pensou, ainda que sabendo que se o encontrasse, voltaria a fingir que o não tinha visto.

Desafiavam o tempo, numa rua que tantas vezes desceram juntos e outras tantas subiram afastados. No somatório, perderam para as vezes que apenas caminharam por ali, completamente sós e em busca um do outro. Sorriam para si, até que... [o destino os tentava, colocando-os num frente-a-frente que não poderiam desmentir e por reflexo ou instinto...] Ela parou e ele susteve a respiração. Rindo, de peito aberto, ela olhou para trás e o viu... Olhos nos olhos, respiravam, finalmente...


[O destino o favorecia] - pensou, enquanto a seguia, como tantas vezes o fez, acelerando o passo... Ela caminhava apressada, porque lhe fugia, como sempre fugiu. Ainda assim, esperava-o... Uma vida e noutra vida... Um jogo de amantes... Um preliminar intemporal... A adrenalina de tão pura empurrava o coração do peito. Ele tremeu, ela tremia.

Caminhavam lado, a lado. Era um caminhar expectante... As possibilidades, ainda que remotas, eram tão provocadoras... E de tal forma os provocava, que volta e meia, ambos tropeçavam absortos em pensamentos... 
Ele esticou a mão, como se os dedos fossem ímanes, na esperança que ela a agarrasse. Ela sorriu, como se fosse o sol do meio-dia, e sem uma palavra, segurou-lhe a mão.

[O destino os favorecia] - pensaram, ao sentir as primeiras gotas de chuva. A rua deserta, o céu a abrir o caminho, um prédio a oferecer abrigo... Uma corrida, sem aposta, onde se perde a roupa e se ganha tudo o resto... Convite mudo, que não se recusa, quando nas mãos se segura o amor de uma vida.

O amor... Sem lugar, sem hora marcada... Ganhou.
O Tempo... Alaga, enquanto espera... Numa rua que se desce...

Fotografia de Fábio Martins (contém hiperligação para a página do Autor) 

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