quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Minha!

«Minha!» - Palavra apertada entre os nós dos dedos, enquanto o pé carrega no acelerador.
Abre a janela e espera que o vento preencha o espaço com os aromas campestres e que estes o acalmem. Ânsia de chegar ao lugar de onde nunca deveria ter partido.

«Minha!» - Palavra concentrada a cada nova mudança, a cada quilómetro percorrido.
Concentrar... missão quase impossível! As cores do próprio campo despoletam imagens há muito gravadas: lábios como cerejas suculentas, cabelos como a asa de um corvo, corpo curvilíneo como o caminho a percorrer, olhos cheios de água, como lagos profundos onde o sol repousa todas as noites.
Os dedos percorrem os cabelos como se o gesto pudesse aliviar a tensão que sente, como se a carícia fosse o prelúdio de muitas outras. Ânsia de chegar, antes que ela hesite e vá de novo embora...

Novo desvio, afasta-o do itinerário principal, dos viajantes, dos locais. A casa parece estar num lugar isolado e àquela distância apenas consegue distinguir o telhado claro e o manto verde que a cerca. No jardim as sebes floridas marcam todo o espaço, aconchegando-o sob trepadeiras suspensas.
O caminho até à casa é feito a pé, como se quisesse afastar todos os ruídos artificiais, aqueles que muitas vezes se colocam entre as pessoas, separando-as...
«Minha!» - Palavra suspirada ao toque aveludado das flores no caminho.

Estremece perante a porta aberta, revê as vezes que por ali entrou, carregando-a nos braços como se tivesse colhido a felicidade por entre as árvores de frutos. Recorda, tantas outras, em que não chegaram a entrar, amando-se à porta de casa, por entre malas e sacos espalhados na urgência.
Entra sem bater, o coração na boca profere o nome dela, contraindo-se na ausência de resposta.
Alarme, confusão, medo... Nuvem negra passageira, dissipada por um "estou aqui" como o canto de uma ave numa manhã de sol.

_Minha... - Palavra diluída nos lábios como cerejas suculentas, cabelos como a asa de um corvo, corpo curvilíneo como o caminho a percorrer, olhos cheios de água, como lagos profundos onde o sol repousa todas as noites.

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