terça-feira, 6 de setembro de 2011

Caminhar


Sigo os meus passos como se fossem de um caminhar diferente, vejo como se encaminham para as ruas desertas no silêncio da noite.

As sombras tão ruidosas e intensas realçam o contraste axadrezado dos passeios. Luz e escuridão em tons graduais de branco e negro, para trás fica tudo o que é colorido.
A cidade não dorme.
Aqui e ali espectros viajantes deixam um rastro perfumado no ar. As fragrâncias gotejam dos telhados contando os minutos que enchem pequenos espelhos de água.
Pensei que teria medo ao passar junto aos becos mal iluminados, mas na verdade, apenas sustenho a respiração quando os meus passos se deixam ficar contemplando o breu desconhecido. Concentro-me nos sons que chegam: uma tampa que salta, a fúria de um gato, uma garrafa que parte, uma tosse cavernosa...
Alívio sinto nos passos apressados que sigo, respiro ao afastar-me dos becos sem saída.
Não me pergunto sobre o que ali estou a fazer... A mera suposição de acção vence qualquer discussão interior.
No fundo da rua uma ponte, do outro lado a escuridão é mais densa. Os passos hesitam sem contudo suspender o movimento. Agem como se não houvesse volta a dar ou talvez saibam para onde vamos...

Eu não sei, mas isso agora não é relevante, sigo os meus passos em seu caminho e por ora é tudo o que me sinto impelida a fazer.
Caminho, ainda que não sinta os passos como meus.
Fotografia de: Um outro Olhar (contém hiperligação para a página do autor)

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