terça-feira, 10 de maio de 2011

Delírio lunar



Suspensa no infinito lácteo estou cativa dos teus segmentos de vida. Não é fácil a espera pelo renascer e nem pelo teu despertar, mas prometi ao Tempo nunca apressá-lo para que não precipite o teu fim.
Aguardo-te nos meus lençóis de marfim cintilante, cortinas de luz que lanço na vigília dos teus sonos.
Virás até mim… Eu sei e espero!
Na minha inquietude, sobretudo nas noites em que permaneço oculta, passo os dedos no meu instrumento de corda, sinto as suas vibrações melancólicas e deixo que cresçam palavras que falam de amor e de saudade… Acordes que se confundem com o suspirar de Vénus, lanço na poeira cósmica para que não perturbem o teu fluir… Um dia, como se te desprendesses do sopro da Vida, leve como o ar, deixar-te-ás ir e eu estarei aqui, à espera.
Nas tuas breves vidas e a cada reencontro, anseias pelos meus segredos…
Os tempos que temos nunca são suficientes para que possa iniciar uma narração além horizonte... Transbordando carinho, não é a História do Homem e da Origem dos Tempos que te conto.
Como um eco de sereia narro a tua própria vida e como esta se tornou parte da minha… Confesso, como fiquei cega desde a tua primeira vida… Como nada mais existe além de ti e como, mato o Tempo em quartos que crescem e minguam apenas como uma luz de presença.
Ao meu esplendor retomo a cada noite da tua presença… É por ti que brilho e é para mim que olhas como resposta ao meu chamado…
Namoro-te até que te enamores e depois deixo que venhas e que te deites nos meus lençóis de marfim… Nessas noites, estou cheia, repleta e resplandecente… O meu corpo é a harpa que tocas e o acorde que arrancas fala de sedução, paixão, saudade e amor.
No meu delírio, os oceanos agitam-se e crescem, absorvem os meus cristais de água em movimentos profundos, como as carícias que trocamos para deleite dos nossos corpos e paz das nossas almas.
Em êxtase, deixo-me ir e flutuo até à aurora humedecer os campos e despertar a vida que corre além de nós… Até ao momento em que tudo acaba ou recomeça sinto-te como uma febre agitada, uma bússola orgânica, uma euforia profunda, noites em que sou apenas uma mulher nos braços de quem ama.
Hoje, não me roubas ao céu porque não lhe pertenço, há muito abandonei a sua superfície gelada.

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