quarta-feira, 4 de maio de 2011

À deriva

Autor desconhecido (contém hiperligação para a página de origem)


Viajo nesse rastro do outrora,
do que não foi e do que poderia ter sido
e perco-me entre amargas lembranças
que não deixam esquecer os sorrisos
e tudo o que poderia ter acontecido.

São breves momentos esticados e entrelaçados
por fio sintéticos que a vida não quis tecer.
São momentos falsamente vividos, pré-fabricados,
tecidos por nós para nós, falsa vida de um falso viver.

Ser Criador de um nada e viver uma existência sem existir.
Um consolo sem consolar…
Ser tudo e ter tudo…
Coisas que a vida não me quis dar.

Um pico acima e um pico abaixo
É o Céu e o Inferno
O Amor e o desgosto
Um abraço e um safanão
Horas de fome, outra de abundância
O Inverno e simultaneamente o Verão.

É ser artista de circo, malabarista ou trapezista
Viver do perigo, com o perigo e para o perigo.
Do calor dos aplausos à solidão da noite.
Das taças erguidas ao copo solitariamente vazio.

Viver a vida de mãos atadas,
pedir socorro sem falar,
definhar e jorrar vitaminas,
na esperança de uma palavra ou um olhar.

É mais fácil deixar morrer do que viver para salvar
Todo o esforço se perde em mais uma agressão.
Ciúme, um dia. Desgosto sempre!
Caímos nas malhas da tola discussão.

É tão fácil olhar para trás e fazer de conta
que as lágrimas correram em vão
por erros cometidos e duramente punidos…
Justiça não foi feita e a merecida recompensa
foi sempre alimento de uma só refeição.
Pedaço de pão duro, osso duro de roer,
pequeno alívio de tão difícil digestão.

Sonhos de reconciliação, pura combustão carnívora ou sexual,
fome avassaladora de engolir esse mundo…
Mas tudo se vai esvaindo, tudo nos vai fugindo
e depois, quando tudo acabar, a culpa até foi nossa:

Secámos e não amámos o suficiente.
Não fomos até ao fundo do poço.
Apenas andámos à deriva…
Abaixo do nível do Inferno.

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